Ainda a responsabilidade social
Já por aqui temos falado da responsabilidade social das empresas portuguesas. Num dos comentários a este post, prometi que voltava ao tema.
Quando há cerca de 3 anos, o meu filho saiu da escola, com 18 anos, o 10.º ano concluído e sobretudo com as limitações inerentes à SA, ficámos sem saber o que fazer.
A escola meteu-nos nas mãos uma lista de nomes e moradas, como que a dizer, nós terminámos aqui, agora «façam-se à vida». De entre os nomes e as moradas contactados, houve uma experiência que correu mal – durou uns dias – numa instituição essencialmente vocacionada para a deficiência física e muitas inscrições em listas de espera.
Valeu-nos, na altura, o CADin e o seu Núcleo de Integração Profissional (NIP) e em concreto a Dr.ª Sandra Pinho, aos quais deixo aqui expresso o meu público reconhecimento. Interessaram-se, indagaram, telefonaram, foram lá, ajudaram-nos. Daí surgiu a instituição onde o meu filho se encontra no momento. Não é a melhor, já o temos dito, mas é a possível nas actuais circunstâncias.
Neste ínterim, entre a saída da escola, as diligências do CADin e as nossas para conseguir uma instituição mediaram alguns - felizmente escassos - meses. Nesse lapso de tempo e de entre os variadíssimos contactos que efectuei, surgiu-nos como solução temporária uma instituição particularmente vocacionada para terapia ocupacional de casos de doença mental. Ficava situada numa zona da cidade paredes-meias com um bairro social, num local bastante periférico para onde a urbe empurrou alguns dos deserdados da sorte…
Recordo-me bem que uma das tarefas ocupacionais que o meu filho aí iria fazer era remover, com a ajuda de um instrumento cortante, excrescências de juntas de motores de automóveis, segundo creio. Eram peças de borracha que quando saíam dos moldes da fábrica vinham ainda com algumas excrescências que era necessário remover. O que as pessoas ali faziam era, pois, remover manualmente as referidas excrescências de modo a que a peça se apresentasse limpa para ser vendida. Isto a um preço que segundo creio era de €0,5 cêntimos ou €0,10, não me recordo bem.
Não sei o tempo que aquilo demorava a fazer mas, pelo que vi, garanto-vos era trabalho para uns bons minutos...
Conversa para cá, conversa para lá, soube que era um engenheiro que ali ia semanalmente levar as juntas para limpar e recolher as que estavam limpas… Dois dedos de conversa mais e consegui saber o nome da empresa e o do empresário por detrás dela… É apenas um dos homens mais ricos de Portugal, com interesses em diversas áreas…
Quando há cerca de 3 anos, o meu filho saiu da escola, com 18 anos, o 10.º ano concluído e sobretudo com as limitações inerentes à SA, ficámos sem saber o que fazer.
A escola meteu-nos nas mãos uma lista de nomes e moradas, como que a dizer, nós terminámos aqui, agora «façam-se à vida». De entre os nomes e as moradas contactados, houve uma experiência que correu mal – durou uns dias – numa instituição essencialmente vocacionada para a deficiência física e muitas inscrições em listas de espera.
Valeu-nos, na altura, o CADin e o seu Núcleo de Integração Profissional (NIP) e em concreto a Dr.ª Sandra Pinho, aos quais deixo aqui expresso o meu público reconhecimento. Interessaram-se, indagaram, telefonaram, foram lá, ajudaram-nos. Daí surgiu a instituição onde o meu filho se encontra no momento. Não é a melhor, já o temos dito, mas é a possível nas actuais circunstâncias.
Neste ínterim, entre a saída da escola, as diligências do CADin e as nossas para conseguir uma instituição mediaram alguns - felizmente escassos - meses. Nesse lapso de tempo e de entre os variadíssimos contactos que efectuei, surgiu-nos como solução temporária uma instituição particularmente vocacionada para terapia ocupacional de casos de doença mental. Ficava situada numa zona da cidade paredes-meias com um bairro social, num local bastante periférico para onde a urbe empurrou alguns dos deserdados da sorte…
Recordo-me bem que uma das tarefas ocupacionais que o meu filho aí iria fazer era remover, com a ajuda de um instrumento cortante, excrescências de juntas de motores de automóveis, segundo creio. Eram peças de borracha que quando saíam dos moldes da fábrica vinham ainda com algumas excrescências que era necessário remover. O que as pessoas ali faziam era, pois, remover manualmente as referidas excrescências de modo a que a peça se apresentasse limpa para ser vendida. Isto a um preço que segundo creio era de €0,5 cêntimos ou €0,10, não me recordo bem.
Não sei o tempo que aquilo demorava a fazer mas, pelo que vi, garanto-vos era trabalho para uns bons minutos...
Conversa para cá, conversa para lá, soube que era um engenheiro que ali ia semanalmente levar as juntas para limpar e recolher as que estavam limpas… Dois dedos de conversa mais e consegui saber o nome da empresa e o do empresário por detrás dela… É apenas um dos homens mais ricos de Portugal, com interesses em diversas áreas…
Recordo-me de, na altura, referir que, sim senhor, não punha nenhuma objecção a que o meu filho fizesse aquilo, muito pelo contrário, mas que abdicaria da compensação monetária inerente ao trabalho. Referi ainda que a dita compensação podia ficar para o empresário ou para a instituição, com a condição expressa de que isso fosse claramente dito à tal empresa... Era uma espécie de bónus que nós fazíamos à tal empresa…
Acho que este episódio dispensa quaisquer outros comentários. Ele é suficientemente ilustrativo do que eu acho que é o grau de responsabilidade social das nossas empresas…
Acho que este episódio dispensa quaisquer outros comentários. Ele é suficientemente ilustrativo do que eu acho que é o grau de responsabilidade social das nossas empresas…
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Etiquetas: Inclusão, Vida adulta
6 Comentário(s):
Caro Asper
Peço desculpa pela crueza das palavras, mas parece-me que esse trabalho seria mais uma especíe de aproveitamento precário das pessoas com necessidades,porque se isso é responsabilidade social, eu fico ainda mais desolada...Ainda bem que o meu filho não se dá com objectos cortantes(lol).E continuamos a ter que nos “fazer á vidinha”...Devo salientar tbm que de facto não existem muitas opções, e as poucas que por aqui tenho visto, são deveras dispendiosas para a mais comum das carteiras. Serão oportunidades 5 estrelas?É caso para dizer ou tens pais ricos, ou vais ao B....,
Bjocas
Cara Mina
O que se pretende, não direi provar, mas pelo menos ilustrar é que há muito pouca - quase nenhuma - responsabilidade social nas empresas portuguesas...
Aliás, quem tem dinheiro em Portugal ainda esmifra o Estado... Adianto uma opinião pessoal: veja o Berardo, se precisava daquilo que recebe do Estado?! E fundações de privados, onde estão?! Vá lá que o Champalimaud lá deixou uma parte para uma fundação, porventura mais por receio de que a família delapidasse o que ele construiu e para preservar o nome para posteridade, do que para devolver a todos parte do que todos lhe deram...
Quanto às opções, se está a pensar na mesma que eu, aquilo é caro e apenas ocupacional, nada profissionalizante, não me parecendo que justifique o custo...
Abç
Caros Asper e Mina,
É na verdade chocante a situação relatada e revela de forma claríssima a falta de resposta da sociedade para a integração profissional dos menos capacitados.
E como o Asper bem diz, não há mesmo responsabilidade social nas empresas mas penso que a do Estado também deixa muito a desejar.
Apesar de ainda me faltar muito tempo para ter de encarar as vossas dificuldades, já me preocupo com o futuro e tento muitas vezes antever as capacidades do meu filho daqui a alguns anos. No entanto, tal não é possível porque até a sua evolução não segue os parâmetros normais.
Mas também vos digo que mais grave mesmo é que para os outros jovens a situação e as perspectivas de futuro também não estão nada risonhas...o que é assustador!
Abreijos!
Caros Amigos,
Neste nosso País, empresários, no verdadeiro sentido do termo, há muito poucos. Depois há chamada iniciativa privada, mas é para a questão mesmo da iniciativa, mas, de preferência, com risco partilhado com o Estado, seja pelo "subsidiozinho", pelo melhor tratamento fiscal, pelos planos "ad eternum" de pagamentos de dividas em atraso, etc, etc.
Depois há os gestores públicos, que tem uma imaginação prodigiosa que produzem tantas ideias, que me atreveria mesmo a dizer que são uns verdadeiros "idiotas", mas que com o dinheiro deles, não teriam, com toda a certeza. Depois disto, haverá espaço para falar-mos em responsabilidade social? Bom, tem de haver, vamos falando, vamos dando a conhecer a realidade e, daqui a uns bons anos, pode ser que este conceito entre nas cabeças dos nossos queridos empresários ( se entretanto receberem uns extras para o efeito, pode ser que pegue).
Cumprimentos a todos.
Maria Anjos
Cara Mariamartin
Tem razão no que refere em relação ao Estado no que diz respeito à integração socioprofissional. Mas se não fosse o Estado, o meu filho não tinha, apesar de tudo, chegado onde chegou. Dividindo a vida em dois períodos: o escolar e o profissional, o Estado fez o primeiro mas ainda não fez o segundo. E as empresas não fizeram - não fazem - quase nada, sendo que o Estado aqui é também «culpado» por não legislar, nem dar o exemplo.
Quanto às perspectivas dos outros jovens são as das suas circunstâncias, tal como no nosso tempo foram as das nossas circunstâncias. Recordo-me, por exemplo, que no ano em que entrei para a faculdade ficaram de fora mais de 50% dos candidatos. E hoje há oferta a mais. Há sempre e historicamente ganhos e percas. Não tenho, de todo, esse panorama cinzento que aponta...
Abreijo
Cara Maria Anjos
Concordo com a caracterização que faz da iniciativa privada. Sobre os gestores públicos, não sei se são assim como os aponta, mas sei, por exemplo, que o paradigma de sucesso das nossas empresas privadas, caso de estudo em universidades inglesas, perdoou dívidas de milhões a filhos e familiares, aceitou medalhas sem valor como pagamento de dívidas, gastou centenas de milhares na prepararação de uma assembleia de accionistas, cuja aplicação informática falhou, isto já para não falar das «offshores» e na ocultação de dados à regulação... E ouço, mesmo assim, menos críticas a isso do que aos gestores públicos...
Abraço
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