Reportagem com TPC
A TVI passou, na terça-feira, uma reportagem sobre o autismo, intitulada Nós e os Outros. A reportagem teve o que uma boa reportagem deve ter: investigação e apresentação dos diversos ângulos do problema. Os autores fizeram o trabalho de casa, entrevistaram todas as partes: portadores do problema, pais, médicos, terapeutas, e tentaram perceber o que tinham pela frente. Percorreram todo o espectro, desde o autismo de Kanner à Síndrome de Asperger. Não caíram em lugares comuns sem sentido, como referir Bill Gates, Einstein, etc. Foram apresentados, desde os casos mais profundos – um jovem que tem de ser amarrado – aos casos mais leves, inclusive um caso muito leve, quase imperceptível. Só na prosódia e muito vagamente no olhar se percebia difusamente a SA. Olhei e quase fiquei na dúvida. Só fiquei convencido quando a repórter, questionando-o sobre se as aproximações às namoradas tinham sido difíceis na adolescência, ele retorque, dizendo que não era o aproximar, era mais o falar: a literalidade... Ele não entendeu a abrangência de sentido do termo aproximar e tomou-o no sentido literal...
Apesar do tom um pouco melodramático – embora o problema seja, de facto, um drama – (eu revejo-me num tom mais asséptico), foi uma boa reportagem, bem feita e que recomendo. Está aqui.
Apesar do tom um pouco melodramático – embora o problema seja, de facto, um drama – (eu revejo-me num tom mais asséptico), foi uma boa reportagem, bem feita e que recomendo. Está aqui.
P.S. - Junte-se à Comunidade Virtual Planeta Asperger: no Userplane Webchat, no MSN Messenger ou no IRC.
Etiquetas: Eventos
19 Comentário(s):
Caro Asper,
Vi essa reportagem, está bem feita, recomenda-se.
tambem reparei no caso mais leve que é o rapaz que tem como profissão carteiro, mas que tem dificuldade de "aproximar-se" de raparigas, realmente não entendeu o sentido desta palavra. Tomei mais atenção a este caso porque acho que é mais parecido com o meu filho, apesar do rapaz dizer que batiam-lhe na escola, o meu filho defende-se mais até tornando-se um pouco agressivo.
mãe de K
Caro Asper,
Como já lhe havia transmitido,gostei da reportagem e mais uma vez tomei consciência da dimensão do espectro dos diversos graus de autismo.E tb que, dentro do disgnóstico da SA, as diferenças tb são enormes:veja-se a distância entre o Bruno que vive na "Patolândia" e o Pedro que exerce a profissão de carteiro.
Gostei tb de ver e ouvir o Dr. Miguel Palha, que não conheço,e da forma humilde como disse "pensamos que sim mas na verdade não sabemos,nem temos forma de saber" relativamente à questão de eles "sentirem" ou não como nós.
Relativamente ao meu filho e tal como a mãe de K, achei que o meu filho é mais parecido com o carteiro e na verdade,se ele continuar como está e não houver qualquer regressão ou involução,inagino-o assim aos 24 anos...Claro que gostaria de saber, por exemplo, se ele consegue gerir sózinho o seu ordenado, uma vez que o meu filho não sabe ainda gerir o seu dinheiro, nem tem a noção do valor das coisas.Sabe, contudo, ir e vir sozinho em diversos percursos pela cidade...é claro tb que se se "perde" com algum "amigo" pelo caminho, perde a noção do tempo e chaga atrasado a casa.
Acho importante que o tema seja tratado mais vezes na comunicação social por forma a que as pessoas em geral estejam mais atentas a esta "diferença".E falo por mim que até há cerca de 18 meses atrás apenas conhecia do autismo os casos profundos e graves e o filme "Rain Man".
Agora vou de férias!!! :-)!
Beijinhos!
mariamartin
Como posso ver a reportagem, tentei pelo link,mas como não tenho ligação pela IOL não consegui ver nada.
Caro Asper
Correndo o risco de me repetir, não puderia deixar de comentar esta reportagem no “nosso “Planeta...Até porque consegue fazer uma analise isenta do tema,eu diria quase em estilo jornalistico.Eu não consegui limpar as emoções ao ver o adulto, que era amarrado, para não se auto-mutilar embora fosse o melhor para ele, custa a digerir, e nem no meu imaginário me passava pela cabeça um caso tão real e chocante... Embora o caso do meu filho fique mais entre a “Patolândia” e o carteiro com grandes variantes.Muitas capacidades e ao mesmo tempo uma grande inoperância...Acho que deve haver uma cada vez maior divulgação e consequente debate para melhor conhecimento do autismo e da SA .Não terem a ideia que eu tinha á cerca de 20 anos atrás, que os meninos autistas apenas e só viviam virados para dentro,sem ligação ao mundo real, daí eu sempre achar que o meu filho não vivia nesse mundo irreal, mas tinha comportamentos desajustados e que se enquadravam no espectro do autismo,e só foi feito o diagnóstico clinico confirmando a SA e/ ou autismo de alto funcionamento aos 18 anos...Ah!.. o meu tbm podia ser carteiro, desde que não lhe fizessem muitas perguntas, decerteza que as cartas ficariam na morada correcta, podia era levar mais tempo a depositá-las pois tinha de verificar bem...
Bjocas
Cara mãe de K
É como diz, de facto, uma reportagem «bem feita». O caso do carteiro é realmente um caso muito benigno. Até este momento, o caso mais benigno que já conheci. Mas, admito, conheço muito pouco...
Cara Mariamartin
Há realmente muitas diferenças no espectro do autismo e mesmo dentro da SA. Conviria a classe médica ir arrumando isto em gavetas mais pequenas.
Também gostei do Dr. Miguel Palha que já conhecia de um encontro. Tenho para mim que os médicos que trabalham nestas áreas são mais humildes porque percebem que sabem muito pouco... coisa diferente do que se passa na «medicina da mecânica e das canalizações»...
Sobre as projecções sobre o futuro do seu rapaz, acho curioso – caríssima amiga – que tenha necessidade de as fazer – eu também tenho e sempre as fiz – mas acho que já a ouvi dizer que «vive um dia de cada vez» ou coisa semelhante... ;-)
É decisivo, de facto, que o tema seja tratado nos meios de comunicação social, de preferência sem o tom melodramático que esta reportagem teve, mas de uma forma normal, pois só assim se pode fazer uma verdadeira inclusão.
Óptimas férias e grande abç
Cara Bete
É porque não tem o RealPlayer. Procure na net e instale-o. Eu fui buscá-lo ao Baixaki.
Abç
Cara Mina
Procuro sempre fazer análises isentas e, tanto quanto possível, desprovidas de envolvimento. Serei SA?! :-) Foi talvez por isso que sempre vi o problema no meu filho que os médicos, os terapeutas, os professores teimavam em não ver... Inclusive o tal grande especialista em SA no momento... Se reparar até, nem sequer fiz, até agora, qualquer paralelo com o meu filho...
Creio, porém, que os casos da maioria de nós, dado serem SA, se situam entre o Bruno da Patolândia (na parte menos funcional do espectro da SA) e o carteiro (na parte mais funcional do mesmo). Como sabe, o meu também só foi diagnosticado aos 16 anos e, sem «ses», no mundo actual, não podia ser carteiro...
Abç
Olá a todos
Concordando com todas as apreciações globais feitas à reportagem em análise, não posso deixar de discordar de alguns considerandos mais específicos e concretos, mas talvez por isso mesmo, mais importantes. Antes de lá ir, gostava ainda de referir que esta reportagem não deixa ninguém indiferente, ainda mais aqueles que, como a maioria dos que aqui “andamos”, convivem , de uma forma mais ou menos pesada, com o problema. Portanto a emoção, a comoção e outras coisas mais, também estiveram presentes em mim quando vi a reportagem: é duro!
Discordo, em primeiro lugar, que o Pedro (o carteiro) seja um caso leve de Asperger. Se tivesse que escolher um modelo de Asperger clássico, esse seria o Pedro, mas nunca um caso leve dentro do espectro. Embora sem referências a Einstein, Bill Gates e outros tantos ( e que eu acredito que sejam / foram Aspergers ou algo muito parecido) o Dr. Miguel Palha não deixa de dizer, e passo a citar: “... alguns deles tenham enorme sucesso pessoal e profissional”.
Não concordo com Asper relativamente à interpretação do termo “Aproximar” por parte do Pedro. A forma como a questão é colocada, julgo ser mais do que legítima aquela interpretação. Digo mais, já vi na televisão muita entrevista a muita gente que à partida não apresenta qualquer problema, a fazer interpretações literais do que é perguntado. Acontece diariamente e até com gente de grande “bagagem”.
Asper refere ainda que já é tempo de criar “gavetas” para as diferentes categorias ou comprometimentos da síndroma. Talvez a primeira divisão do “armário” fosse a de separar o denominado autismo de alto funcionamento da síndroma de Asperger. Embora os próprios especialistas ainda estejam muito longe de um consenso sobre esta matéria, do muito que tenho lido e de casos que vou conhecendo, parece-me fazer todo o sentido.
Para finalizar, mantenho a opinião há muito aqui registada: há por aí muitos Aspergers que nunca foram diagnosticados, porque os seus sinais era tão ténues e o conhecimento cientifico tão primitivo que escaparam a um diagnóstico. Porque em parte hoje a situação é diferente, os diagnósticos de Asperger multiplicaram-se.
P.S. quanto aos casos Einstein, Bill Gates........, não vale a pena enveredar por uma discussão que seria altamente especulativa e infrutífera. Mas não posso de deixar de referir um caso altamente famoso e comprovado: Drª Temple Grandi. Atenção, esta senhora nem era uma caso ligeiro. Segundo a própria, só aos vinte e tal anos conseguiu, pela primeira vez, olhar nos olhos de outra pessoa.
Pai de A
Caro pai de A,
Permita-me que lhe diga que gosto muito de o ler. O que aqui tem escrito vai de encontro àquilo que eu penso sobre a Síndrome de Asperger. Quando vi a reportagem, não detectei a forma literal com que o Pedro interpretou a palavra “aproximar”, passou-me despercebida por algum motivo. Realmente ouvi-o dizer que o problema não seria aproximar, mas antes falar. Não achei estranho. Porém, concordo com a análise feita posteriormente pelo asper. A palavra poderia ter sido interpretada de forma muito mais abrangente, caso ele não fosse Asperger.
Repare no que se passou comigo ontem, só hoje reflecti. Encontrei uma amiga que às tantas me perguntou: “Então e o teu pequenito?” Hoje penso que o objectivo talvez fosse saber se ele estava bem, contudo, naquela ocasião a minha resposta foi automática: “Está nos Bichinhos Carpinteiros a brincar com o primo.”.
Caro pai de A
Sobre a emoção, espero que tenha percebido a nota de humor dada no primeiro parágrafo do meu último comentário. Veja ainda que, para o caso de pelas palavras não se chegar lá, eu até tive o cuidado de lá pôr um sorriso gráfico. Se reparar bem, vê ainda que eu disse que «procuro fazer análises isentas e desprovidas de envolvimento»... São, pois, apenas as análises. Aliás, os sentimentos e as emoções raramente ajudam à reflexão e à análise, razão pela qual eu procuro deixá-los de fora neste fórum...
Sobre o Pedro: o Pedro é pelo menos o caso mais leve mostrado pela reportagem. Será que não conseguiram encontrar outros ainda mais leves para a ilustrar? E é, claramente, pelo que ali vi, o caso mais leve que eu conheço. Mas, como disse, e repito, conheço poucos casos individualmente: umas pouquíssimas dezenas, resultado de algumas iniciativas associativas e de tempos de espera em átrios de consultas clínicas e terapias. Apenas isso! Mas também não conheço só o meu filho, só de ouvir dizer ou só do que leio...
Sobre o «aproximar», mantenho inteiramente o que disse; aquele foi para mim o sinal mais evidente da SA no Pedro. Estava-se num contexto em que se entrevistava alguém como tendo SA, sendo aquele o exemplo mais gritante de presença da síndrome. Aduzir exemplos sobre a literalidade de algumas interpretações de gente com «grande bagagem» mas que não tem SA não me parece um argumento sério neste contexto.
Sobre as divisões do espectro, vejo que concorda – pensei, pelo primeiro parágrafo, que só ia discordar de aspectos específicos, mas afinal também concorda e acha que ela é necessária; não vou discutir, por incompetência, a questão da distinção subtil entre SA e Autismo de Alto Funcionamento, se é que ela existe. Parece-me, porém, o menos importante neste contexto. Mais funcional do que o Pedro, por exemplo, é - parece-me - alguém normal... não acho que valha a pena colar rótulos de patologias do espectro do autismo a essas pessoas.
Sobre os Aspergers não diagnosticados, se os sinais eram ténues e conseguiram passar incólumes pela vida, - pela escola, pela profissão, pela família - para quê colar-lhes um rótulo? Todos nós, num ou noutro momento nos sentimos deprimidos, fará isso de nós clinicamente pessoas deprimidas?
Por último, quanto aos casos famosos, como o de Einstein, e já que, como diz, tem lido muito sobre este assunto, pergunto-lhe se já leu a comunicação de Utah Frith no Congresso Internacional sobre Síndrome de Asperger realizado em Portugal, em 2006? É que, por exemplo, ela diz, claramente, que não é possível enquadrar aí Einstein. E diz também que é provável que tenha havido algum exagero nalguns «diagnósticos» de pessoas famosas referenciadas...
Cara Mrs Noris
Penso que é válido para o seu comentário o que referi para o pai de A. Note ainda que ontem teve aquele comentário com a sua amiga e hoje reflectiu sobre essa segunda e mais provável possibilidade. Teve essa capacidade! Além disso, creio que não «corrigiu« a sua amiga, dizendo-lhe «não é: então e o meu pequenito», «é mais: onde está o meu pequenito»...
Caros leitores e comentadores
O PA vai de férias durante três semanas.
Boas férias para todos, se for o caso ou quando o for.
Caro Asper
Quero desejar-lhe umas boas férias. Tenha umas férias tranquilas que depois em Setembro havemos de continuar a trocar algumas ideias sobre o assunto e, sobretudo, desfazer alguns equívocos.
Pai de A
mrs-noris
Obrigado pelas suas simpáticas palavras. Limitei-me a expressar a minha mais profunda convicção.
Pai de A
Este comentário foi removido pelo autor.
Cara Luísab
Em primeiro lugar, obrigado pelo seu testemunho e pela menção do PA na lista dos seus blogues preferidos.
Quanto ao seu comentário, acho sinceramente que devemos combater uma certa segregação em dois campos: os aspergers e os outros. Creio ainda que a nossa escola hoje é muito inclusiva, como nunca o foi no passado. E julgo que é positivo que se queira integrar os aspergers no mundo. A começar, desde logo, pela escola. Se, como diz, a escola lhe negou certos direitos, há estruturas que podem corrigir isso, nomeadamente, as direcções regionais de educação (DRE). Creio que primeiro deverá falar com o Conselho Executivo e se o CE não resolver, procurar as DRE. Na grande maioria dos casos, isso é suficiente para limar as arestas que existem.
Abraço
Para variar tenho sempre uma visão mais negativa... deve ser defeito meu!!??
Fica na mesma aqui o que penso sobre as repostagens:
http://partilharombroamigo.blogspot.com/search/label/comunica%C3%A7%C3%A3o%20social
Mamã Sofia
Olá,
alguém tem acesso ou conhecimento de um programa educativo individual na disciplina de educação física elaborado para um aluno asperger? Gostaria de comparar o do meu filho com outro modelo, dado que considero injusto e inadequado o que lhe tem sido proposto em virtude das suas limitações.
Agradecia qualquer informação que me pudesse ajudar a avaliar esta situação.
Obrigada
E quando queremos muito esganar um Aspie, por mais amor que sintamos, aquela vontade de esgana-lo permaneça?
Hehehehe...um pouco de humor negro não faz mal a ninguém...
Vou ali esganar um peluche ou o meu gato não vá o diabo teçe-las...
Respirar fundo...
Ahhh...
Enviar um comentário
<< Home