Quando o amanhã é igual ao hoje…
Como sabem os que me costumam ler, o meu filho está, desde que há três anos deixou a escola, num Centro de Actividades Ocupacionais (CAO) de uma instituição de apoio e acolhimento a deficientes mentais. Antes de para lá entrar, o estado normal dele era de alguma agitação e de uma grande loquacidade com os outros. É claro que essa loquacidade com os outros era unilateral. Na relação de um para um, ele marcava os temas e abordava-os até à exaustão sem se interessar muito com a opinião do interlocutor. O ritmo pessoal dele era – eu diria – acelerado, como um disco – dos tempos do vinil – a rodar a uma velocidade superior à devida. Era assim que nós e os outros o víamos.
Hoje, transcorridos três anos, tudo mudou. E há queixas no CAO do seu alheamento e do seu desinteresse em relação a tudo e a todos. Connosco e com os outros, já tenho reparado, impera o mutismo. Em casa, é possível estarmos horas sem o ouvir. Deixou de se interessar pelo que habitualmente se interessava. Deixou de ler, de jogar na playstation, de utilizar o PC para jogos ou para consultar a net. Invariavelmente chega a casa, vai para o quarto, deita-se ou senta-se, liga a rádio, põe um CD ou vê televisão, creio que mais como ruído de fundo do que por um interesse genuíno sobre a música ou os programas.
Das actividades que faz no CAO, uma delas é a pintura. Um dos seus quadros ganhou inclusive um primeiro prémio ex-aequo numa exposição de pintura para deficientes. Fomos lá ver o quadro e a exposição, fotografamo-lo em frente à obra, mas o entusiasmo foi zero. Na noite de Natal, o que é igualmente sintomático, o entusiasmo com a abertura das prendas foi igualmente zero.
Para quem o conheceu antes, a situação era factor de stresse, para quem o conhece agora e o conheceu antes é uma dor de alma vê-lo assim...
As razões – penso eu - passam pelo desenquadramento institucional de uma vida sem qualquer futuro, em que o amanhã é igual ao hoje...
Hoje, transcorridos três anos, tudo mudou. E há queixas no CAO do seu alheamento e do seu desinteresse em relação a tudo e a todos. Connosco e com os outros, já tenho reparado, impera o mutismo. Em casa, é possível estarmos horas sem o ouvir. Deixou de se interessar pelo que habitualmente se interessava. Deixou de ler, de jogar na playstation, de utilizar o PC para jogos ou para consultar a net. Invariavelmente chega a casa, vai para o quarto, deita-se ou senta-se, liga a rádio, põe um CD ou vê televisão, creio que mais como ruído de fundo do que por um interesse genuíno sobre a música ou os programas.
Das actividades que faz no CAO, uma delas é a pintura. Um dos seus quadros ganhou inclusive um primeiro prémio ex-aequo numa exposição de pintura para deficientes. Fomos lá ver o quadro e a exposição, fotografamo-lo em frente à obra, mas o entusiasmo foi zero. Na noite de Natal, o que é igualmente sintomático, o entusiasmo com a abertura das prendas foi igualmente zero.
Para quem o conheceu antes, a situação era factor de stresse, para quem o conhece agora e o conheceu antes é uma dor de alma vê-lo assim...
As razões – penso eu - passam pelo desenquadramento institucional de uma vida sem qualquer futuro, em que o amanhã é igual ao hoje...
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Etiquetas: Inclusão, Vida adulta
18 Comentário(s):
Caro asper,
Dói muito ver um filho nesse estado de inércia, ainda mais sabendo que eles conseguem, e merecem, ir mais além. A questão é que não se vislumbram alternativas. Não havendo mais palavras, desejo-vos muita força e fico a torcer pela mudança.
Um grande abraço.
Caro Pai Asper...
hoje dirijo este comentário ao Pai sofrido desse lado.
Estou consigo nesse sentir.
Penso que a instituição Escola , CAO e outros não sejam a resposta ideal para os nossos filhos.
Estou aqui de uma directa que fiz, por vezes acontece-me mesmo tomando medicação, não consigo acalmar este meu coração e cérebro .Dediquei pois essa incapacidade de repousar para idealizar, projectar e sonhar ( de olhos abertos ). Andei em sites de instituições ,li muita coisa e concluí outras tantas.
Tenho a certeza que estes jovens estariam felizes a realizar um trabalho ou actividade que os fizesse sentirem-se capazes e úteis. Tenho hipóteses de começar dentro em pouco esse projecto espero que depois outros o queiram seguir.
Eu era empresária com um possível futuro …mais risonho que o actual, onde gasto balúrdios em tudo que é consultas com o meu filho, pela esperança e…
Dediquei-me a ele largando tudo porque a situação dele assim o exigia. Há quem diga que eu deixei tudo porque devo ser é malandra que não quero trabalhar.
Não pedi assistência social nem ajuda a 3ªpessoa. Dediquei-me a pintar porque tive de mudar a minha forma de estar ao lado do meu filho no momento que precisou de mim.
Agora…o futuro dele? Espero que alguém se comprometa a realizar algo ? Meto-o entre quatro paredes frias como muitos estão e não gostam?
Dou-lhe algo que o estimule e não o deixe esconder-se cada dia que passa no nosso mundo mas à sua maneira?
Pensemos o que pode estimular cada um destes jovens pois todos eles tal como nós…são diferentes.
Vejamos qual a capacidade que cada um tem para realizar alguma tarefa e conversemos , numa reunião simples vamos falar todos os que tenhamos filhos já em idade de se dedicarem a algo mais que uma escola onde já não têm futuro e o que gostaríamos de ver mudado na sua vida.
O sonho comanda a vida, embora não possamos usar de utopias mas as realidades estão ao alcance de um gesto tão simples quanto o: FAZER!
Não deixemos os nossos filhos nas mãos dos outros mas sim peguemos nas nossas mãos e vamos: AGIR !
Não nos deixemos governar pelos outros nem abater pela dificuldade de se fazer ou construir algo para os nossos filhos. Queremos vê-los a perder cada vez mais esse contacto com a vida?
O meu filho então …esse preferia morrer que viver vitima dos outros numa escola Portuguesa.
STOP…vamos pensar e dizer franca e abertamente o que queremos para os nossos filhos sem pensar em governantes em assistências sociais , só nós Pais e Filhos o que desejamos como modelo de vida e depois então metermos mãos à obra para se conseguir.
Claro que eu estou a desenvolver um projecto e hoje até às 20h30 a trabalhar no mesmo, falando com pessoas e entidades e a ver os apoios e não só.
Estou muito confiante aqui deste lado porque sei que : SIM NÓS PODEMOS!!!
Abraço e força nesse coração de Pai sofrido.
Julgo que o Estado, na sua imensidão de insttiuições, gabinetes, empresas, armazéns, etc ... poderia efectivamente fazer algo de positivo por estes rapazes. Com muito pouco dinheiro, podia-se fazer estes rapazes sentirem-se úteis e talvez até um pouco mais felizes, com mais auto-estima. Existem em todos estes locais tantas tarefas, umas maiores outras mais pequenas, que poderiam ser feitas por eles. Um pagamento simbólico e alguém que os ajudasse e compreendesse, era o bastante.
Mas não. Importante é fazer leis muito bonitas, "as mais avançadas do mundo" (porque fica bem aos políticos encher a boca com estas expressões) mas que nada servem porque não são verdadeiramente aplicadas, ou porque não existem meios nem recursos ... ou porque não são para aplicar, apenas para fazer vista.
Um Abraço solidário.
Pai de A
Caro Asper, amigo de jornada, já tinha percebido deste lado que alguma angústia pairava no ar por essas bandas.
E infelizmente faço sua a minha dor.
Aproveito e coloco aqui o que já escrevi e foi publicado, no blog furtadas...
Apenas dor na Alma
Há dias que a dor,
Suplanta o amor
Apetece não voltar
Saí do CAO
Com a lágrima a espreitar
Quando fui buscar o meu filho
E o vi naquela posição
Estática, sentado de cabeça para baixo
Olhos pregados no chão.
Ombros descaídos...
Dói, dói mesmo!...
Dói até relembrar!...
Mina
O meu entre outras actividades, no Cao, faz teatro...
Um abraço forte, para não baixar, eu sei que é mais do mesmo, mas não vamos desanimar...(conversa de mulher rsss)
Caro asper
as ideias andam mesmo trocadas é do cansaço, queria dizer faço minha a sua dor, que acaba por ser o mesmo.Confesse-mo tbm eu a "optimisma" muito desalentada, pela inoperância do sistema.
Afinal estamos a navegar no mesmo mar.
Um abração
Caro Asper,
Já tinha saudades de o ler, embora, confesso, que esperava um retorno diferente. Mas, já me parecia que algo não estaria bem, para uma ausência tão prolongada. Mando-lhe um abraço muito forte de solidariedade neste momento, que imagino, muito dificil.
Agora, não se deixe vencer pelo desânimo. Bem sei que as soluções não abundam, bem sei também que o cansaço deve estar instalado por tantos anos a lutar. Mas acredite sempre em si para lutar pelo seu filho. De facto acho que teremos seriamente de pensar am algo feito por todos nós, como refere a Luisa B. Mas até lá, já pensou em, por exemplo, tentar ver o que oferece a "Quinta Essência", que fica para os lados de Sintra? Sei que é para jovens maiores de 16 anos e que terá uma oferta de ocupações muito vasta, com apoio de técnicos. Sei também que tem uma parceria com o CADIN. Penso que o seu filho tem sido acompanhado no CADIN, não é verdade? Tente saber, se é que já não fez, junto do Cadin sobre este local. Provavelmente os preços serão proibitivos...mas, vale a pena saber, não acha?
Desejo sinceramente que esta situação seja ultrapassada rapidamente. Um abraço.
Maria Anjos
Caro amigo,
Creio que todos já havíamos pressentido o desânimo e a "desesperança" desse lado, pois todos temos essa sensibilidade que,infelizmente,falta totalmente nos nossos filhos.
O caso do seu filho e do filho da Mina poderão ser para nós, pais de crianças mais novas, uma "visão do futuro" pois não se conhecem projectos em curso que possam nos anos próximos dar aos nossos uma situação mais favorável.
Tem-se feito alguma coisa a nível de apoios no meio escolar (que pouco ou muito me parece ainda insuficiente...)mas os técnicos,governantes e outras "cabeças" parecem esquecer que estas crianças crescem e tornam-se adultos!Não se implementam empregos protegidos,não se apoiam iniciativas privadas de ocupação útil destas pessoas, nada...
Paralelamente, criam-se inúmeros "cursos de formação", devidamente remunerados para os beneficiérios de RSI no intuito de estes adquirirem competências laborais e arranjarem emprego.No entanto, o que acontece é que essas pessoas frequentam esses cursos uns atrás dos outros, durante anos a fio,desde jardinagem a "técnicas de higiene" ou eletricidade, sem nunca arranjarem emprego.Se se faz isto aos que nunca trabalharam (nem querem na maioria dos casos!)porque não fazer o mesmo com pessoas com capacidades diminuídas? São só os preguiçosos que neste país têm direito a "impulsos" do Estado?São só os habitantes dos "bairros problemáticos" que têm direito a que o Estado tente torná-los cidadãos úteis?
Desculpem este desabafo mas ando verdadeiramente farta deste apoio aos coitadinhos dos que querem viver à custa dos outros!!!
Ainda por cima conhecendo casos, como os dos vossos filhos e de outros jovens que frequentam a CERCI daqui e que poderiam,melhor que aqueles,vir a ser cidadãos produtivos e integrados.
Aqui no meu "burgo" tenho tentado informar-me,tenho falado com pessoas ligadas à acção social,até já falei com pessoas da Inspecção do Trabalho mas no horizonte...nada!
Espero que a LuísaB tenha sucesso no seu projecto e nos informe depois da sua natureza e do modo como chegou lá.
Para si em especial meu amigo Asper um grande abreijo,já que dar esperança e ânimo não é assim tão fácil, pois se fosse, era o que lhe daria neste momento...
mariamartin
Caros comentadores
Antes de mais agradeço-vos muito a simpatia que me demonstraram.
Muito obrigado
Cara Mrs Noris
É como diz, de facto, não existem alternativas; o que há é mais do mesmo. A alternativa teria de ser uma instituição para gente com SA ou com PEA. Mais cedo ou mais tarde, porém, terão de aparecer essas instituições, mas para já não existem... A APSA tem há vários anos um projecto designado «Projecto Futuro», ao qual eu próprio já estive ligado, mas que avançou pouco... Informalmente sei que agora está a mexer, esperemos...
Aliás, como já aqui disse, cheguei em tempos a sugerir à APSA que se fizesse alguma coisa com o CADIN. O CADIN tem instalações e técnicos; uma marca de automóveis daria uma carrinha para transportar os jovens (a carrinha teria como contrapartida a devida publicidade), os pais suportariam uma mensalidade. Do ponto de vista público, conseguir-se-iam certamente alguns apoios. Creio que a ideia foi ventilada mas não avançou...
Um abraço
Cara LuísaB
Estou genericamente de acordo consigo. A solução passa sobretudo pelos pais e pela sua capacidade de realização. Mas obviamente que terão de ter apoios, do Estado e das empresas. Só a vontade e alguma filantropia não chegam. Aguardo com muita curiosidade que nos diga em que consiste esse seu projecto.
Um abraço
Caro Pai de A
Concordo em absoluto consigo. Mas não excluo da equação as empresas que podiam fazer igual e não fazem. Mas - claro - já seria um bom começo que o Estado desse o exemplo. Ademais numa altura em que, depois de nos dizerem que não havia dinheiro para nada, subitamente parece haver dinheiro para tudo e mais um par de botas, designadamente para intervencionar bancos que há pouco mais de um ano tinham lucros de 40% ao ano?!?!
Cara Mina
Percebi bem o que queria dizer mesmo sem rectificação. A ausência, porém, não tem a ver com angústia ou desalento, tem a ver com o facto de neste momento vos ter muito pouco para dizer ou discutir. Mas obviamente que sei – porque é mãe de um adulto – que me compreende muitíssimo bem.
Um grande abraço
Cara Maria Anjos
Vale o que disse para a Mina sobre a ausência. Neste momento tenho pouco ou nada para vos dizer. Sou – ou pelo menos tenho-me – por muito pragmático. E o que não pode ser vencido, simplesmente não se vence e gere-se. Não há, de facto, soluções específicas para SA e PEA. Há outras soluções, como essa que refere. Não a conheço em pormenor, mas parece-me que os ganhos seriam sobretudo em «hotelaria» e pouco mais. Recordo-me que em tempos, andei a ver o site deles e a área da integração socioprofissional ou similar estava pura e simplesmente em branco. A população deles é tão heterogénea como a da IPSS onde o meu filho está. Creio que pagaria muito mais sem vantagens à vista.
Um abraço
Caríssima Mariamartin
Uma vez mais me identifico inteiramente com o que escreve e com as conclusões que tira. Mesmo nessa sua área, diria em tom provocatório, mais «reaccionária» ;-), estou de acordo. Na área da formação e dos apoios, há muito dinheiro pura e simplesmente deitado à rua que por sua vez falta noutras...
Já tenho pensado que os apoios às PEA só vão para frente quando tivermos um VIP influente com um filho com uma PEA...
Um abraço
Caro Asper
como eu o entendo
a minha filha supostamente termina este ano o 12º ano e depois o k ?ainda hoje falei coma professora dos apoios educativos que me disse que pro ano nem sabe se vai estar nesta escola, quanto mais pensar o k fazer com a minha filha...e andamos aqui sem saber o que planear , que pensar...receio que qualquer dia a minha Ana tb chegue a casa, não converse, não queira o seu PC, nem seuqer jogar na playstation, como sempre faz...e aí
a sua dôr vai ser a minha dôr...Há tanta coisa para os meninos ditos normais, e também algumas opções para os mais anormais, mas para aqueles que dentro da sua anormalidade ainda conseguem alguma coisa, não há rigorosamente nada...que país este...que vida esta...que fazer?
Cara Anónima
É suposto a professora de ensino especial dar algum encaminhamento pós-escola à situação da sua filha. Creio que a escola pode e deve fazer alguma coisa em relação a isso. Posso-lhe dizer que esse - não do ponto de vista da mágoa mas do ponto de vista do stresse - foi o pior período da minha vida enquanto pai. Fica o meu testemunho e creio que se deve acautelar...
Quanto às opções, é como diz, não há nada específico para os nossos. E o que existe, do que conheço, não é adequado... Até existir algo específico, só podemos, numa perspectiva activa, ajudar a criar algo ou, numa perspectiva passiva, esperar que apareça algo...
Porém, todas as situações são diferentes e a minha não tem de ser necessariamente igual ou semelhante à sua...
Um abraço e felicidades
Não sei muito bem por onde começar, mas o problema que temos em Portugal é que muita gente vive as custas da intervenção precoce e depois do acompanhamento no ensino.
Isto acontece porque nós pais estamos muito mais focados em que os nossos filhos sejam iguais aos outros e desculpem me dizer não são tal e qual como uma pessoa que não tem uma perna ou uma paralesia. Se partirmos desta ideia poderemos ajudar muito melhor os nossos filhos.
Mas como estamos a falar de jovem que ja têm uma experiencia de vida, ja têm ganhos e nitidamente não estão a potencia los pois a corrente maioritaria em Portugal é de que Auties e Aspies são para estar em CAO´s e não terem uma vida activa dentro das suas capacidades.
As varias conversas que tenho conseguido ter com Auties e Aspies foram todas desembocar no mesmo porto, eles têm necessidade de estr com outros na mesma condição e precisam de ser activos de serem estimulados e provavelmente o que se passa com este jovem é que o estão a monesprezar nesta intituição e o obrigam a fazer actividades que não são de acordo os seus gostos.
Em Dia da Consciencialização do Autismo, apenas me consciencializo que para quem o lê agora e conheceu o seu filho antes - é sim, caro Amigo, uma dor de alma.
Sei que não ajuda.
A minha, enquanto mãe, está igual.
Dor de alma. E quedam-se as palavras.
Um forte abraço querido amigo.
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