A Síndrome e as figuras públicas
Acabei de saber, por uma amiga, esta história que se passou com uma outra amiga. Reputo, porém, a fonte como sendo de total confiança. A tal amiga tem um filho a iniciar o ensino básico, ao qual foi diagnosticado Síndrome de Asperger. Não conheço pormenores ou detalhes, mas creio que os técnicos da escola – presumo que psicólogos e professores de ensino especial - lhe terão dito que, enfim, «até o prof. Cavaco Silva era asperger», prometendo assim um «amanhã luminoso» àqueles pais. Quem sabe o filho não chega a Presidente da República?! Não sou técnico e sei muito pouco sobre a Síndrome de Asperger, mas o que sei, por experiência própria e alheia, permite-me achar que é completamente irresponsável proferir uma enormidade destas. Só porque alguém tem uma postura mais reservada, mais hirta, mais rígida, cola-se-lhe com total ligeireza um rótulo de «asperger». Que enormidade?! Infelizmente, porém, já tenho visto escrito e ouvido em diversas sedes que Newton, Einstein e outros eram «asperger». O que é notável, em termos de capacidade científica. Recuar uns séculos e diagnosticar «asperger». Com base em quê? Com que rigor científico? Provavelmente, viu-se num qualquer livro e copiou-se, acriticamente, em «segunda mão». No meu tempo de faculdade, chamava-se, a esse exercício ilegítimo de «flashback», «anacronismo» e era proibido aos estudantes fazê-lo. Mas isso é o menos. O problema é que, ao dizer-se isto, estão-se a criar expectativas nos pais que, na quase totalidade dos casos, vão ser defraudadas quando se virem, na idade adulta, com alguém socialmente disfuncional e incapaz de, como diz com sabedoria a expressão popular, «orientar a sua vida», ou seja, ser completamente autónomo e independente. Gostaria muito, mas muito, de ver estas alusões a Einstein, Newton, Bill Gates, Ramalho Eanes e Cavaco Silva, completamente banidas das conversas dos médicos, dos técnicos e dos livros que falam sobre a Síndrome de Asperger.
12 Comentário(s):
Carissimo Pai de Asperger
Eu também sou um pai de Asperger. Permita-me discordar com o que escreveu. Não existem dois Aspergers iguais, aliás filosoficamente não existe nada igual. A verdade é que existe uma enorme percentagem de Aspergers inadaptados (chamemos-lhe assim) na vida adulta. Mas também há muitos que se adaptaram, e tiveram uma vida mais ou menos normal. Concordo consigo que não se alimentem ilusões, é sempre uma vida de incertezas e dúvidas (pode-me perfeitamente acontecer a mim o mesmo que a si, quando o meu filho atingir a vida adulta). Mas também não se pode fazer o contrário aceitando o facto como uma fatalidade. Nem todos serão génios, mas há muitos que o são. O meu filho ainda só tem 9 anos. É um Asperger diagnosticado a 100%. Até hoje é uma criança feliz, perfeitamente integrada. Anda numa escola publica (é um dos melhores alunos), joga ténis (é um dos piores jogadores), faz natação, e faz a vida mais ou menos normal de um miudo da idade dele. O avô materno também é um Asperger. Passou por muita coisa na vida, foi militar na guerra colonial (condecorado e com vários louvores, tendo sido também animador cultural), foi o primeiro analista informático em Portugal na área dos seguros, e hoje reformado não conseguindo viver sem numeros à sua volta abriu uma empresa de contabilidade. Teve 3 filhos e é uma pessoa integrada e feliz, digamos que um pouquinho especial.
Eu prefiro sempre acreditar no melhor, e dar esperança a quem vem ter comigo com este problema (não dou ilusoes), mas nunca deixo de lutar, nem de acreditar no mehor futuro para o meu filho. Se ele não for um "Cavaco" ou um "Einstein", pois paciencia. Mas o sonho comanda a vida, e o amor e a disciplina fazem milagres (já muitas coisas que eu pensei serem impossíveis aconteceram ). Chame-lhe um acto de fé se quiser.Ficou-me este espirito de meu avô, que sobreviveu a duas guerras no meio de trincheiras, gás mostarda, e muito horror, e que sempre me ensinou que um homem tem medo, um homem chora, mas um homem nunca se agacha. Ele morreu com 96 anos feliz e a sonhar. Um abraço amigo.
Caríssimo Sérgio
Está naturalmente à vontade para discordar. O que menos se pretende - ainda por cima num espaço de reflexão sobre a diferença - é o unanimismo. A sua perspectiva só enriquece a minha e complementa-a.
Compreendo o que me diz e creio que até já mo tinha referido pessoalmente. O que eu pergunto é: Para quê colar um rótulo de Asperger a alguém que tem - como diz - uma vida completamente normal e integrada, ainda que com algumas peculiaridades? Parece-me uma espécie de patologia sem doente?! Percebo a sua perspectiva que é, aliás, marcada pela sua (positiva) experiência pessoal - com o seu filho e o seu sogro - tal como a acontece com a minha que é marcada pela (negativa) experiência com o meu filho que - infelizmente - nunca irá ter uma vida completamente independente.
Tive dos 0 aos 16 anos um jovem «disfuncional» - adoro esta semântica - para passar a ter, a partir dessa idade, um adulto «deficiente». Essa é - para mim - a dura realidade das coisas.
Um forte abraço
P.S. - Voltarei ao tema em próximo «post». Volte sempre.
Uma história semelhante aconteceu connosco, aliás foi a primeira vez que ouvi falar em Asperger. Antes, apenas alguns meses, uma outra história tinha desabado sobre nós, uma terrivelmente sinistra que retirara todo o futuro ao nosso filho ( que tinha acabado de fazer os três anos ). O diagnóstico tinha sido tão tremendo que retirou-nos, durante tempo demais, a possibilidade de nos "entusiasmar", mesmo que muito levemente, com a hipótese de uma "normalidade", quanto mais de sucesso ou "genialidade".
Hoje, depois de alguns anos passados, acredito que a Esperança é o motor da História, da Vida e, talvez, não haja um sinónimo tão rigoroso de Morte total, "sem remédio", "sem vislumbre", que a eliminação da Esperança.
O nosso filho ainda é demasiado pequeno para se advinhar qualquer estrelato no seu percurso mas já é suficientemente crescido para ter a certeza que o futuro pode existir para ele.
O sofrimento cruel e intenso que passámos foi sobretudo desnecessário: o conhecimento de todas as possibilidades não seria construir "castelos no ar" mas poderia ter significado o poupar de um desgaste que pesará, sempre, uns dias mais, outros menos, na conquista de energia para construir e acreditar na Esperança.
Cara anónima
Não serei eu a retirar-vos a «esperança» que devem ter e alimentar... Que seja, porém, uma esperança muito atenta e ancorada na realidade... Pois, poderão voltar a perdê-la na «idade adulta»... E, depois, isso dói muito mais... Acredite...
Cumprimentos
P.S. - Como já prometi, voltarei a este tema um dia destes...
Bom dia.
Eu criei há poucos dias igualmente um blog sobre asperger. Desconhecia que existiriam por aí alguns e fiquei contente por ver que alguém teria feito o mesmo. Sempre desejei ver as pessoas informadas sobre este assunto.
Eu sou uma aspie com 21 anos.
Acabei de ler este seu post e de facto terei também de discordar até certo ponto.
Quando fui diagnostica com Asperger, o meu especialista tomou ele próprio a iniciativa de me referir alguns famosos com Asperger (tanto já mortos como vivos). E eu confesso que me senti mais confiante. Não por achar que iria ter um futuro brilhante. Mas sim deu-me força para ter ambições. Porque afinal os nossos limites não são assim tão curtos...
Eu estou agora no curso de Psicologia em Lisboa e tenho a ambição de ir para investigação e até mesmo trabalhar na APSA. Podem passar passar só de sonhos. Mas eu lutarei por eles porque sei que não sou limitada ao ponto de não conseguir fazer grandes coisas.
Acho que será essa a maior intenção ao falar disso.
Óbvio que há os casos de crianças que adoptam a "lei do menor esforço" e então guiam-se nesses dados esperando ansiosamente que qualquer coisa caía do céu. Mas isso já não é Asperger mas outra coisa.
E também há crianças, que de tão diferentes e incapazes se acham, agarram-se a essa ideia como uma esperança certa. Ficando altamente desiludidas se não conseguirem. Mas isso também é a vida real, não Asperger. Cabe aos pais explicarem correctamente que tudo se consegue com esforço, mas mesmo assim... nem todos os sonhos se realizam...
Olá. Li os vossos comentários e decidi dar também o meu contributo. Estou a trabalhar com uma criança c/ Asperger (de 10 anos) há 1 mês. Acompanho e apoio esta criança na escola (de ensino normal), faço um pouco a ponte entre ela, os professores e os pais. Estou a aprender a cada dia que passa, já que nunca tinha trabalhado com estas crianças (embora seja licenciada em Psicologia e tenha trabalhado na área). Posso dizer-vos que esta criança tem um nível de Asperger algo elevado. Contudo, mantenho uma relação bastante positiva com ela, assim como a maioria dos professores, outros funcionários da escola e os colegas, que são extremamente compreensivos (chega a ser emocionante às vezes)!!! Da minha parte, tenho a dizer-vos que, com Asperger ou não, é possível ser-se feliz, disso não tenho quaisquer dúvidas. Alguns de vocês falam em sonhos, todos os temos e todos temos direito a concretizá-los de alguma forma. Esta criança diz-me muitas vezes que está a "ter um bom dia", o que significa que está mais tranquila e mais confiante; sorri quando ouve algo mais engraçado ou faz uma expressão mais atenta quando vê alguém de quem gosta ou que lhe é familiar; fala muito de assuntos dos quais gosta... Não vos parece que estas características nos são, de algum modo, comuns (ou parecidas) a todos nós? Parece-vos exagerado? A mim não, já que encaro o ser humano como alguém capaz dentro das suas capacidades e único pela sua autenticidade, apenas com visões do mundo distintas. Todos queremos ser felizes, amados, respeitados; eu disse todos, porque somos mesmo todos :) A todas as pessoas que têm uma pessoa c/ Asperger na sua vida, digo-vos que nunca desistam de a fazer feliz, é isso que lhe vai dar força para chegar mais longe e concretizar os seus sonhos! Eu não tenho Asperger e preciso exactamente do mesmo na minha vida, para ser cada dia mais feliz. :))) Luísa
Acho otimo os comentarios da Luiza e da Soul.
Faz pouco tempo que eu sei, tenho Asperger ms nunca na minha vida foi um impedimento pra mim, talvez pelo fato de nunca saber que eu tinha. E dou forças as pessoas que acham podem conseguir o que quer, mesmo o fato de ser Aspereger. Eu sou Engenheira Quimica, tenho um posgrado em Alimentos y em Produçao Limpa e trabalho numa industria na area de Pesquisa & Dsenvolvimento. Na area laboral eu me dou muito bem, só na area social eu gosto mais de ficar na minha casa que sair pra festas. prefero um cinema antes que as outras coisas que gostam as pessoas da minha idade, mas acho que vou levando muito bem.
caros amigos, eu sou pai de um asperger de 5 anos, e devos dizer, que sim, é muito dificil não projectar algo de grande para os nossos filhos, mesmo quando esses filhos tem este sindrome.Defacto, tal como disse a luisa, todos nos queremos ser felizes, e queremos fazer quem nos rodeia felizes.
o asper, não é diferente, é simplesmente desigual.
desigual nesta vida por vezes ingrata, mas cabe a nós como pais, estar atentos para as suas nessecidades.
aprendi a tratar o meu filho como igual a todos os outros, e vos digo que por vezes esqueço-me do seu sindrome, chocante? não axo, aqui vos digo que por vezes facilita-nos a mim e a ele a ultrapassagem de algumas barreiras dificeis para ele.
e nesta idade em que ele ja se aprecebe da sua diferença em relação aos outros, a mim so me resta prepara-lo para tal.
claro que a ideia de tar a criar um genio, me agrada. mas o que me deixa mais feliz é estar a criar o meu filho, pessoa unica e especial (para mim) abraços luis
Acabei de saber que sou pai de um asperger com 11 anos.Sempre estive consciente que não era uma criança igual às outras, desenvolveu-se muito cedo... aos 7 meses disse as primeiras palavras. Qual vai ser o seu futuro? Não sei! O seu presente ... é uma criança com amigos, adora ir a festas e aos 8 e 9 anos, respectivamente ganhou dois prémios a nível internacional, um de desenho, outro de escrita...Possivelmente muitas crianças ditas normais não atingiram este feito. O meu filho é uma criança meiga, independente, passa fins de semanas com amigos. Gosta da parte social. Diferenças dos meus outros filhos? Apenas é mais interessado em alguns temas específicos, é descodenado motor,é muito ansioso, fica triste quando gozado pelos colegas (mas quem é que não fica) e tem uma imaginação prodigiosa. Será que o meu filho é de facto tão diferente dos demais?
Soube que meu filho é Asperger no dia de seu 17ºníver. Nem sabia o que era isso, apesar de considerar meu filho um herói diante de todas as dificuldades que enfrentou até hoje. Ele gosta muito de matemática e física, mas não entende os comandos interpretativos, mesmo assim, sempre estudou em escolas particulares e fez as mesmas provas e simulados que os demais colegas. Mas, sempre instrospectivo e muito tímido, ansioso e com deficit na coordenação motora, além de processamento lento do que ouve e/ou lê. Mesmo assim se mostra mais inteligente que os demais primos e se dá melhor na escola, e isso tudo sem qualquer ajuda, pois tem sua rotina disciplinada de estudos diários mesmo nas férias e feriados.É uma luta arrancá-lo de casa para jogar uma bola com os amigos (onde é um perna de pau, mas todos gostam de sua participação). Mas, quando vai, se diverte a valer. Acredito em surpresas, as quais vem ocorrendo nestes anos e me surpreendendo com seu desenvolvimento, muitas vezes para mim, inesperado, quando eu já tinha achado que meu filho era até um autista. Agradeço muito a Deus pelo único filho que me deu e que me dá muito orgulho.
Caríssimos amigos em Portugal,saudações!
Sou muito interessado neste assunto e devo dizer que tenho amigos aqui no Rio de Janeiro, que têm filhos Asperger. A pergunta que gostaria me fôsse respondida é:Pode a Sindrome se manisfestar num cidadão adulto, ou seja, durante toda sua vida nada levou a crer que essa pessoa fosse um SA,e sómente na fase adulta um diagnóstico assim fôsse fechado?
Somos todos diferentes! E esta conversa não me faz qualquer sentido! Vemos pessoas "normais" sem quaisquer interesses, motivações, objectivos! Pessoas "normais" que sao infelizes,talvez pelo caminho que escolhem ou mesmo como consequência da sua criação!Todos temos os nossos problemas e limitações! Com isto quero dizer que: Ninguém é perfeito, o que interessa é ser-se Feliz!
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