O olhar e o contacto físico em idade precoce
No workshop de ontem, Será Asperger… O que fazer?, Carla Almeida e Inês Leitão sublinharam a necessidade de efectuar um diagnóstico o mais precocemente possível, de modo a traçar uma estratégia de intervenção que permita um desenvolvimento adequado da criança com Síndrome de Asperger (SA). E abordaram a grande dificuldade em efectuar um diagnóstico seguro de SA antes dos 3 anos, ou seja, antes da entrada para – digamos assim – o ensino pré-escolar. Isso obrigou-me a recuar até aos três primeiros anos da vida do meu filho. E a «vasculhar» nas minhas memórias sobre se havia algo, nessa idade, que eu pudesse identificar - estando naturalmente alertado para tal - como sintoma do quadro clínico que depois se viria a configurar. E a resposta é afirmativa. Em dois aspectos: no «olhar» e no «contacto físico». No olhar, porque – mesmo nesses primeiros tempos – sempre achei o olhar do meu filho bebé invulgarmente atento e com uma fixidez diferente. Aquele olhar era diferente dos olhares dos outros bebés. Tenho-o bem presente e vivo na memória. Sentia-lhe a diferença. E vislumbro-o nalgumas fotografias da época. No contacto físico, porque era um contacto desajustado, onde não havia – digamos assim – «diálogo corporal». Por norma, os bebés anicham-se, aconchegam-se no colo dos adultos, moldam-se às suas formas, adaptam-se. Ora isso nunca aconteceu com o meu filho. Houve sempre uma forma de estar no colo hirta, rígida, diferente. Lembro-me de numa ocasião lhe pegar ao colo enquanto dormia. Tendo sido de imediato repreendido pela minha mulher que me disse qualquer coisa do tipo: «Parece que só te apetece pegar-lhe ao colo enquanto está dormir!». O que era, porventura, verdade! E percebo agora o porquê. É que só nesse estado me era «confortável» tê-lo no colo, só nesse estado estabelecíamos um diálogo também através do corpo…
4 Comentário(s):
Desde sempre que discordo com esta 'afirmacao', porque o meu filho assim o contraria. Olhando para tras e revendo fotos e filmes nunca foi por ai que eu o achei diferente da irma, com mais dois anos.O meu filho sempre gostou muito do colo e de contacto fisico, ate me arrisco a dizer que e a melhor forma de 'dialgo 'dele. Ainda hoje com quase nove anos, gosta muito de mimo e estar na nossa cama, sempre a procura do nossa pele.No olhar também não.Onde ele e diferente e na comunicacao e com interesses muito centrados e tudo nele roda em funcao desses interesses. No entanto esta diagnosticado como Asperger ao que nos concordamos.
Para os asperger - parece-me - vale o lema da Benetton, «todos diferentes, todos iguais». O seu filho tem umas características e não tem outras. Se calhar nenhum tem todas. É normal. Não é um único aspecto que faz um asperger mas um conjunto de aspectos reunidos. Aliás, no que diz respeito ao contacto físico, mesmo cá em casa, a «doutrina diverge». Se perguntar à minha mulher, ela diz que nunca o notou. Eu, porém, tenho a certeza absoluta do que afirmo. Curiosamente, o meu filho, desde há 2 anos, procura muito mais o contacto físico do que procurava, embora também de forma desajustada, pois nem sempre respeita as «distâncias sociais». Quanto ao olhar, acho que sempre alternou entre o fixo e o evitante ou desviante, consoante se trate de coisas – em movimento – ou de pessoas. Embora com «nuances». Assim é esta realidade díspar que se chama asperger.
Não há dúvida de que algumas crianças com SA manifestam sintomas em idades muito precoces. Conheço algumas mães que suspeitaram do diagnóstico no dia em que a criança nasceu!o mesmo se passa com o autismo severo que pode ter início precoce ou tardio. O prognóstico não depende da idade de aparecimento, mas acreditamos que quanto mais cedo a intervenção melhor.
NLA
Caro dr. NLA
Ainda bem que tb comenta neste fórum. É bom sinal. Outros não o fariam. Abençoados os «estrangeirados», digo eu. Não sei é se o exemplo serve para catequizar os paroquianos locais.
Não fale só nas mães, caro dr. NLA, que os pais tb riscam nestas matérias. Vidé o exemplo junto.
Um abraço
Asp
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