134 amigos e nenhum amigo
Apanhei esta história, da qual faço aqui uma tradução livre ou adaptação, num artigo na net.
Alex, uma criança inglesa com dez anos de idade, comenta com entusiasmo e exactidão o facto de ter 134 amigos na escola... Alex não brinca com os outros meninos no recreio ou à saída da escola, mas preocupa-se em aprender os seus nomes para juntar à sua extensa colecção de palavras. Depois de elaborar a lista, Alex, entusiasmado, inicia um laborioso trabalho de classificação, distribuindo os nomes dos seus 134 amigos por 26 categorias, tantas quantas as letras do alfabeto inglês. Todos os meninos cujos nomes começam pela letra A formam a categoria de amigos do grupo A e assim sucessivamente. No final, Alex mostra-se decepcionado por não ter conseguido mais do que um menino para a categoria correspondente à letra Z.
Esta história fez-me lembrar uma outra, passada comigo e com um reputado neuropediatra da nossa praça – o nome não interessa para aqui – ao qual eu, delicadamente, há dois anos atrás, aventei a possibilidade de o meu filho poder sofrer de Síndrome de Asperger, embora ele não o tivesse diagnosticado – o que faz toda a diferença. E aventei a hipótese, com base em mais de vinte características que identifiquei, após uma psicóloga me ter alertado para a existência dessa Síndrome, a que se seguiram várias e compulsivas leituras. Encabeçava a lista o facto de o meu filho não ter amigos. Seguiu-se, então, este edificante diálogo, comigo e com o meu filho:
Pergunta ele ao meu filho:
- Então não tens amigos lá na escola?
O meu filho:
– Tenho. Tenho o A, o B, o C, o D…»
Ele para mim:
- Vê como ele tem amigos!
Eu para ele:
– Então se tem amigos, o sr. dr. pergunte-lhe quantos é que foram à casa dele e à casa de quantos é que ele já foi e ainda a quantas festas de anos ele já foi.
Poupo-vos o resto do diálogo. Aliás, apenas abordámos mais uma característica, pois o dito cujo clínico, escudando-se no facto de aquela ser uma consulta extraordinária e de não ter mais tempo «arquivou» a lista no processo, assinando-a e datando-a. Nunca mais falou nela à minha mulher.
Já agora importa dizer que mais ou menos dois anos depois escreveu numa declaração médica: «sofre de perturbação de défice de empatia compatível com Síndrome de Asperger».
Já agora importa dizer que mais ou menos dois anos depois escreveu numa declaração médica: «sofre de perturbação de défice de empatia compatível com Síndrome de Asperger».
Etiquetas: Diagnóstico
5 Comentário(s):
Muitos Asps têm essa maneira "simpática" de designar todos aqueles com quem cruzam e com quem trocam meia dúzia de palavras....
Poderemos ensinar-lhes , i. e.(conseguirão eles apreender ) a diferença entre um amigo e um colega , por exemplo ?
Para eles a «nuance» entre «colega» e «amigo» não é fácil de atingir, porém, quando industriados penso que a compreendem, mas daí a pô-la em prática, aplicando-a em novas situações... Cabe-nos, contudo, ir porfiando para que consigam...
Volte sempre.
This reminds me of an answer I got from a girl with whom I was trying to get into some friendship while studying for a year in England:
She: "I like you - but as a friend." We know that they have a very smart way to say things, even if it were just to cover the sad reality. In the case of our son, a 20 year old apsi, things are one level more difficult. There is no friend at all, neither girl nor boy. Social exclusion is such a strong side of apsis. A tricky situation with no way out. Vamos andando em pequenos passos.
Ate logo, Reinhard (ainda sem blogger name).
São exactamente essas «nuances» da linguagem, em que o «dito» não é exactamente igual ao «não dito» que os «nossos» não percebem...
Obrigado por comentar no Planeta Asperger, caro Reinhard.
Volte sempre.
Curioso ouvir sobre isso. Nunca me aconteceu tal...Eu costumava dizer que colgegas de "quem eu gostava que fossem minhas amigas" eram minhas amigas. E de facto, escrevia o nome delas na lista do telemóvel, inventando o nº.
Muitas vezes fingia que lhes telefonava.
Interessante testemunho.
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