A ordem na desordem: arte contemporânea e SA
Há uns dias atrás estive em Serralves. Não conhecia as colecções, nem sequer o espaço do Museu. O meu filho – para quem não sabe, neste momento com 19 anos e com SA – acompanhou-nos como (ainda) acontece quase sempre. Serralves é um museu de arte contemporânea, de onde o esforço de comunicação das pessoas com os objectos é naturalmente maior do que na arte diremos antiga ou clássica. Esse diálogo exige maiores competências de abstracção e um sentido estético claramente superior ao que o espírito do meu filho, apegado ao que é mais chão, terreno e lógico, pode entender. Ainda por cima, grande parte das peças eram esculturas e/ou composições com algum grau de integração com o próprio espaço expositivo, sendo difícil senão mesmo impossível para ele distinguir onde acabava o objecto em si mesmo e começava a obra de arte. Os equívocos foram, assim, mais do que muitos. Ainda quando eram pinturas ou esculturas isoladas e delimitadas em espaços próprios: paredes ou bases de suporte, a coisa foi. O pior foi mesmo quando surgiram as composições mais livres e integradas no espaço. A dada altura, numa divisão ocupada apenas por uma composição: grosso modo eram telas (leiam-se panos de tela) distribuídas aleatoriamente no chão com peças de puzzle em idêntica situação. Aí, a coisa foi caótica porque o meu filho tentou de imediato organizar os puzzles: claro que um puzzle é um conjunto de peças que servem para ser organizadas de acordo com uma determinada ordem e lógica – ademais ele gosta de puzzles - e não para estar como aquelas estavam em perfeito desalinho… Aquilo escapava a toda a espécie de regularidades que ele era capaz de entender… Penso que apesar de todas as explicações, ele ainda não entendeu o porquê daquilo estar assim… E, já agora, tratava-se de uma peça do artista norte-americano Barry Le Va, cuja obra se caracteriza pela fragmentação e pela procura da ordem que se encontra na desordem aparente… Já estão a ver, não estão?!
2 Comentário(s):
Caro Asper,
partilho da forma como descreve o museu de Serralves que, aliás, aprecio muito (não só o museu como os jardins). Contudo, lembro-me muitas vezes da história do "rei vai nu" quando vejo algumas (ditas) peças de arte (veja-se a polémica no Reino Unido com o dinheiro gasto por um importante museu com "peças de arte", consubstanciando-se uma delas em bosta de um animal). Parece que a "moda", actualmente, é as obras de arte, em vez de "representarem", "apresentarem" os próprios objectos. Eu confesso que, por vezes, tenho dificuldade em apreciar positivamente algumas delas... Já teve oportunidade de ler o "Courrier Internacional" desta semana? Tem lá um artigo sobre o Daniel Tammet, o "autista sábio". Diz ele, a certa altura, que "o meu cérebro decompõe tudo em elementos concretos e tangíveis. O que me custa a perceber é o intangível" e que o n.º "pi" "é tão bonito quanto a Gioconda".
Termina dizendo "dantes sonhava ser como os outros" mas que "é na contradição entre capacidades e limitação que se vê a humanidade".
Um abraço, Maria
É de todas as épocas, os artistas entrarem em ruptura com o que já conhecem e ousarem fazer diferente. Se gosta de Serralves, veja a exposição da Fernanda Gomes: eu gostei muito...
Por acaso não li o Courrier desta semana, porque estive fora. E dei-me férias tb dos jornais... É interessante, o que o tal Tammet refere, mas essa expressão do «autista sábio» já me deixa arrepiado, cara (Simplesmente) Maria...
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