A revolta dos pastéis de nata
Já aqui tenho dito isto. O meu filho, com 19 anos e Síndrome de Asperger, gosta de futebol e em particular do Sporting. É parte da herança da paterna, pois claro! Valha-nos isso! Na semana passada, o Sporting empatou com o Belenenses. Parece que um jornal desportivo titulou qualquer coisa do tipo: «A revolta dos pastéis de nata». Sabe-se que o futebol é um desporto riquíssimo em metáforas. Na passada sexta-feira à noite, tivemos uma pessoa de família a jantar cá em casa. Foi logo feito pelo meu filho o relatório da semana e, a dado passo, sai-se com esta: «O Sporting perdeu; o jornal disse que foi a revolta dos pastéis de nata». De orelha alerta, perguntei-lhe: «então, mas foi a revolta dos pastéis de nata, porquê?». Não conseguiu explicar de forma minimamente satisfatória o título. Dei-lhe, então, uma ajuda mas duvido que tenha percebido toda a amplitude de significados que o título comporta.
Na verdade, o que é muito simples para nós, envolve para eles um elaborado conjunto de associações mentais, conjugadas com alguns referentes informativos que é necessário retirar do seu contexto e criar equivalências figuradas.
Senão vejamos:
Na verdade, o que é muito simples para nós, envolve para eles um elaborado conjunto de associações mentais, conjugadas com alguns referentes informativos que é necessário retirar do seu contexto e criar equivalências figuradas.
Senão vejamos:
1.º O Belenenses é de Belém;
2.º Em Belém fica a conhecida confeitaria dos famosos pastéis de Belém;
3.º Os pastéis de Belém são pastéis de nata;
4.º O Belenenses conseguiu empatar com o Sporting (revoltou-se);
5.º Há um programa de televisão com o título: A revolta dos pastéis de nata.
De onde, naquela imagem, os pastéis de nata são os jogadores do Belenenses e a revolta implica que contrariaram o Sporting impondo-lhe um empate; a que se junta o deslocamento semântico, digamos assim, de um título de um programa de televisão que ali convoca um jogo de equivalências.
Ora é precisamente neste raciocínio de equivalências figuradas, de comparações sem conectores, absolutamente linear para nós, que reside todo um mundo que sinto completamente intransponível para ele…
2.º Em Belém fica a conhecida confeitaria dos famosos pastéis de Belém;
3.º Os pastéis de Belém são pastéis de nata;
4.º O Belenenses conseguiu empatar com o Sporting (revoltou-se);
5.º Há um programa de televisão com o título: A revolta dos pastéis de nata.
De onde, naquela imagem, os pastéis de nata são os jogadores do Belenenses e a revolta implica que contrariaram o Sporting impondo-lhe um empate; a que se junta o deslocamento semântico, digamos assim, de um título de um programa de televisão que ali convoca um jogo de equivalências.
Ora é precisamente neste raciocínio de equivalências figuradas, de comparações sem conectores, absolutamente linear para nós, que reside todo um mundo que sinto completamente intransponível para ele…
Etiquetas: Características, Linguagem
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