888.com
Já aqui o disse, um dos temas fortes de conversa do meu filho com Síndrome de Asperger (SA) e neste momento com 19 anos é o futebol, sobretudo tudo o que se relacione com o Sporting, clube da sua predilecção. E nunca deixo de me admirar pela colecção de factos acessórios ao jogo que ele vai acumulando. É como se fosse um repositório não só do que interessa mas sobretudo do que não interessa. Esta semana ao vermos a final da Taça UEFA entre o Sevilha e o Espanhol, o meu filho sai-se com esta: «o patrocinador do Sevilha é o mesmo do Middlesbrough». No caso é a empresa de jogos online, 888.com. Pasmei, por dentro e por fora. Primeiro porque não ligo meia aos patrocinadores das equipas. Talvez porque faça mentalmente a destrinça entre o que é essencial e realmente importante, as equipas, os jogadores, os lances do jogo, e o que é acessório, os patrocinadores, as marcas dos equipamentos, os dirigentes, etc. Percebi depois como foi feito aquele link mental. No Middlesbrough joga o brasileiro Rochemback que já jogou no Sporting. Nos últimos tempos tem-se falado muito no regresso daquele jogador ao Sporting e devem ter aparecido fotografias nos jornais. E ele reparou nos logótipos das camisolas, coisa em que eu nunca repararia. O que me parece em tudo isto inusitado, mas próprio da condição de SA, é perceber que aquele acumular de factos se esgota em si mesmo. Que aquilo é sedimentar, que vale como repositório, mas que não é organizado num todo coerente, nem é relacionado com outras áreas, nem é gerador de novo conhecimento. Que não há filtro para analisar o que é importante e o que é desprezível e que tudo vale o mesmo. E se formos analisar o raciocínio, vai tudo afinal dar ao ponto de partida que é também o ponto de chegada…
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Etiquetas: Áreas fortes, Características
6 Comentário(s):
Caro Asper,
como julgo já ter referido, a minha filha "SA" tem apenas seis anos e a minha outra filha tem dez.
Não sei o que é ter um filho rapaz, com dezanove anos, "SA".
Contudo, e perdoe-me a sinceridade, parece-me um pouco exagerada uma das conclusões que tirou no seu "post".
É que conheço muitas pessoas ditas "normais" que dão (demasiada, na minha opinião) importância aos patrocinadores e marcas de equipamento (a publicidade que existe a este nível é, aliás, bastante agressiva), dirigentes etc.; pelo menos tanta quanto dão aos jogadores e aos lances de jogo. Ainda que isso não seja "gerador de novo conhecimento".
Não me parece, por isso, que o não utilizarem um "filtro para analisar o que é importante e o que é desprezível" seja o que distingue os "SA".
O que de facto os distingue, e nisso concordo inteiramente consigo, é que o "acumular de factos se esgota em si mesmo", valendo como simples repositório.
Um abraço.
Cara Maria
Está inteiramente perdoada! Importa, porém, em primeiro lugar, dizer-lhe que o que distingue os portadores de SA dos «outros» é muitas vezes uma linha ténue e penso que é isso que se nota no seu comentário.
No que respeita a esta situação, não duvido que a estratégia das marcas seja a que diz. É, aliás, por isso que pagam aos clubes para os seus jogadores «andarem» com os logótipos nas camisolas. E até coisas mais rídiculas como obrigar os treinadores a usar bonés com o patrocínio em conferências de imprensa em espaços fechados ou garrafas de bebidas em cima das mesas ao lado os microfones, etc., etc. Porém, isso é uma coisa, outra bem diferente são os amantes de futebol conhecerem os nomes dos patrocinadores das equipas. Eu continuo a achar, baseado na literatura de referência e na minha própria experiência com o meu filho, que ele não distingue o essencial do acessório e que não tem esse «filtro» instalado. Aproveita tudo só porque diz respeito àquele tema, não avalia, nem selecciona. Aliás deixe-me ainda dizer-lhe que, antes de escrever o post, perguntei ao meu filho o nome dos patrocinadores da equipa que vai em primeiro lugar do campeonato e da que vai em último. Ao que ele me respondeu que o da primeira, o FC do Porto, era a PT, e o da última, o Desportivo das Aves, eram os Transportes Freitas… Julgo que se perguntar ao mais amantíssimo dos adeptos de futebol e não residente em Vila das Aves se conhece os Transportes Freitas, verá melhor a razão pela qual escrevi o post…
Um grande abraço
Ao ler post e comentários lembrei-me dum episódio que aconteceu mesmo há pouco, quando eu e o meu filho de 5 anos fazíamos o percurso, de carro, rumo à sua escola. Normalmente reage mal quando paro para ceder passagem a quem tem prioridade, rezingando e questionando porque o deixei passar à frente. Às vezes a frustração conduz mesmo ao choro. Mas hoje, o comentário foi diferente.
Referindo-se ao carro a quem cedi passagem fez a seguinte observação: “Mamã, é o carro de ontem que vimos!”. Atendendo a que o meu filho ainda não tem noção do espaço temporal, provavelmente quis dizer que se tratava de um dos carros a quem cedi passagem na sexta-feira, ou noutro dia qualquer. Naturalmente não posso provar que tal seja mesmo verdade, mas lá que acredito, acredito.
Abraço.
Cara Mrs Noris
Seja bem (re)aparecida. Acho que tem razão. Experimente confirmar, como eu faço, algumas dessas coisas e vai ver que não há coincidências.
Grande abraço
Olá a todos os pais e a todos os frequentadores deste blog. Descobriu-o durante uma pesquisa que estava fazendo. Eu sou aluna de Design de Comunicação e estou a desenvolver um projecto que vai consistir numa instalação pública sobre perturbações do desenvolvimento (síndrome de Down, Asperger...). A minha ideia é mostrar à sociedade em geral que crianças com estas características especiais também têm capacidades, também têm interesses em diversas áreas e quero dar a conhecer actividades ou objectos que estas crianças desenvolvam e que muitos pensam que não possa ser possível. Encontrei um trabalho recente de uma artista que expôs em Serralves e que o seu trabalho era desenvolvido com base na Síndrome de Asperger, ver o mundo pelos olhos de um Aspie. Não tive contacto com essa exposição, agradecia se alguém lá esteve que me pudesse passar a experiência, porque são projectos que me interessam e que me podem ajudar a desenvolver os meus materiais, pois a intenção não é fazer vídeos com estas crianças, ou mostrar fotografias, a ideia é arranjar uma solução diferente que aproxime as pessoas da instalação e que as faça compreender um pouco do seu mundo.
As pessoas que escrevem neste blog, mais do que ninguém, me podem ajudar dentro do Síndrome de Asperger a encontrar objectos sonoros, escritos ou plásticos que possam ter significado para serem trabalhados por mim. É com esta recolha que vou conseguir chegar a soluções diferentes como a da artista Filipa César que referia anteriormente.
Agradecia imenso que me pudessem ajudar, mais que não seja a perceber a visão destas crianças sobre o mundo, como elas o olham ou outros temas que achem que podem contribuir para o meu projecto. Já li imensos comentários aqui do site e sei que é uma luta diária.
O meu e-mail de contacto é: marisa.rdg@netcabo.pt
Um abraço para todos,
Olá Marisa. Não vi a exposição de que fala mas pode ser que alguém que frequente o blogue a tenha visto e a possa ajudar. Bom trabalho.
Volte sempre
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