AGORA SOU EU! 1 – Involução! Sim ou não?
Como se disse no primeiro post deste espaço, o Planeta Asperger é essencialmente dos seus leitores. Inauguro agora um outro tipo de posts a que chamarei: «AGORA SOU EU!». A frase pretende ser uma metáfora de um comportamento tipicamente asperger na relação com os outros. Irei repescar alguns comentários com perguntas, autonomizá-los sob a forma de posts e lançar o debate que eles suscitem. É o que faço com este da Mariamartin que coloca, a meu ver, várias questões muitíssimo pertinentes. A minha resposta vai também no post.
«Caro Asper,
Antes de mais obrigado pelas palavras de conforto quanto à reacção do Director de Turma do meu filho. Não há dúvida de que por vezes somos nós próprios que, por receio ou preconceito, já analisamos negativamente as reacções dos outros ao nosso problema. Neste caso concreto até pode ser que a razão esteja do seu lado e eu estivesse demasiado pessimista. Depois dessa "apresentação" já fui a uma reunião de pais e o Prof. confirmou já ter distribuído a papelada aos colegas e tê-los alertado para as necessidades especiais. Como é meu lema, também neste assunto "a ver vamos"! A nível escolar ele continua bem, 70% a 80% nos testes, excepto em História que teve 45% porque, como ele diz "não percebo nada daquilo"! O mais preocupante continua a ser mesmo "o social". Ele fez 10 anos no passado dia 5 e sendo segunda-feira limitámo-nos a um jantar melhorado a 4, com marisco (que ele adora!) e um bolo pequeno. Disse-lhe que no Sábado seguinte faríamos uma festinha com os avós, as primas, o vizinho Nuno com quem costuma brincar e 4 colegas da escola que ele quisesse convidar. No dia seguinte disse que apenas viria o Marco pois os outros deviam ir para fora. Na 6.ª feira o Marco já não podia vir porque ia para o Monte, mas viria o Gonçalo que ficara de telefonar a confirmar. Até Sábado de manhã o Gonçalo não telefonara e o meu ligou-lhe várias vezes para o tlm. Sempre desligado. Em suma, nenhum dos colegas convidados apareceu e, por azar, o vizinho Nuno adoeceu. A sua festa foi apenas feita por nós, os avós e as primas (uma com 13 anos). Ele manifestou algum desapontamento mas que depressa passou, como aliás lhe passam depressa todas as emoções. Eu, o pai e o irmão ficámos muito preocupados... este é o 4.º ano com uma turma onde não consegue fazer uma só amizade. Por alguns comentários dos colegas, penso que ele é considerado "chato" e "parvo". Quer mandar em todas as brincadeiras, não sabe brincar, tem conversas parvas, é mau, zanga-se facilmente com alguma coisa... O facto de ter um aparência "normal" faz com que os outros nunca o vejam como uma criança com problemas mas apenas como um "chato". E isto leva-me novamente à questão do "deve ou não dizer-se" a estas crianças com 10 anos que ele tem SA? Será que já têm capacidade para ser generosos como foram os colegas do filho do Asper? Ou iriam chamar-lhe "anormal", "deficiente", "maluco", etc.? Neste momento, como não temos resposta, não vamos arriscar. Mas temos a clara noção que provavelmente é esta "cegueira" social e emotiva que com o passar dos anos leva ao agravamento do seu estado. Porque em termos de autonomia ele mantém-se praticamente igual, o que fazia ou não fazia aos 6 continua a fazer ou a não fazer, só que não tem amigos nem brincadeiras próprias da sua idade! E por isso, hoje termino com uma pergunta ao Asper e à mãe anónima de um rapaz com 19 anos: na vossa opinião o que é que agravou o estado dos vossos filhos? Foi a parte emocional e social? Foi uma "involução" nas capacidades? Aguardo os vossos testemunhos de experiência! Um beijo a todos!
Mariamartin»
Cara Mariamartin
Antes de mais também, ainda bem que encontrou conforto nas minhas palavras. Procuro ser bastante objectivo e sou – sei-o bem – muitas vezes objectivamente cru. Pelo que nem sempre as minhas palavras têm o efeito lenitivo que lhes encontrou. Ainda bem que foi assim consigo!
Quanto ao seu comentário, que coloca várias questões, é de uma clareza meridiana na análise da situação. E creio que já todos passámos por episódios semelhantes!
Quanto ao meu filho, não acho que tenha havido uma involução, não houve foi a evolução desejada. No fundo:
1.º Os outros cresceram e ele não;
2.º A tolerância social diminuiu à medida que a idade avançou; comportamentos desculpáveis na infância e na adolescência são comportamentos condenáveis na idade adulta;
3.º Certos comportamentos, tiques, atitudes amplificaram-se e/ou tornaram-se mais notados por se tratar de um adulto, resultado, creio – visto agora – da própria evolução da personalidade; moldável na infância e na adolescência, não moldável em adulto.
Em resposta à sua pergunta, a parte emocional e social quase não evoluiu e as capacidades gerais evoluíram menos do que se esperava.
Antes de mais também, ainda bem que encontrou conforto nas minhas palavras. Procuro ser bastante objectivo e sou – sei-o bem – muitas vezes objectivamente cru. Pelo que nem sempre as minhas palavras têm o efeito lenitivo que lhes encontrou. Ainda bem que foi assim consigo!
Quanto ao seu comentário, que coloca várias questões, é de uma clareza meridiana na análise da situação. E creio que já todos passámos por episódios semelhantes!
Quanto ao meu filho, não acho que tenha havido uma involução, não houve foi a evolução desejada. No fundo:
1.º Os outros cresceram e ele não;
2.º A tolerância social diminuiu à medida que a idade avançou; comportamentos desculpáveis na infância e na adolescência são comportamentos condenáveis na idade adulta;
3.º Certos comportamentos, tiques, atitudes amplificaram-se e/ou tornaram-se mais notados por se tratar de um adulto, resultado, creio – visto agora – da própria evolução da personalidade; moldável na infância e na adolescência, não moldável em adulto.
Em resposta à sua pergunta, a parte emocional e social quase não evoluiu e as capacidades gerais evoluíram menos do que se esperava.
Não creio que tenha havido propriamente uma involução. Houve foi uma evolução marginal das competências sociais e uma evolução sofrível das restantes.
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Etiquetas: Amigos, Colegas, Comportamento Social, Escola, Vida adulta
24 Comentário(s):
Boa Tarde
Cara Mariamartin
Ao passar aqui pelo blog, vi o seu apelo, e apesar de não ser nenhuma das pessoas a que se referia.
Por tb há alguns anos andar nestes meandros do ser ou não se eis a questâo?
Talvez a minha vivência como mãe de um Aspie de 22 anos,me traga alguma experiência ,e, é apenas pessoal,no meu caso houve de facto uma "involução", se a este termo aplicarmos mais do mesmo, o tamanho aumentou mas a criança mantêm-se sem amigos sem relações sociais .
No meu caso nunca escondi as dificuldades de integração mas + de interacção. Nas escolas que o meu filho frequentou, sempre na primeira reunião não saia de lá sem falar com o DT e expor-lhe a situação , e quer queiramos quer não os nossos filhos acabam por dar sempre nas vistas de algum modo.E entre o saber e não saber eu acho sempre preferivél a verdade. Embora por vezes ela nos doa. Em relação as amizades parte fundamentalmente da educação dos pais dos outros meninos se são tolerantes ou ignorantes...
E na minha experiência infelizmente tive mais os da 2º. categoria, mas os de 1º. são importantissímos e há que preservá-los no meu caso só encontrei uma familía de 1ª.categoria.
Na puberdade houve uma grande alteração em termos de esteriotipos, que faziam sempre que fosse + notada a diferença.
Durante esse periódo até ao 9º. ano, claro que era gozado pelos os outros jovens da mesma idade,sempre se aproveitam da ingenuidade das nossas eternas crianças.principalmente nos intervalos nas aulas nem tanto dada alguma sabedoria dos nossos "meninos".Acho uma coisa estranha nos vossos jovens serem bons alunos , o meu era muito tábua rasa, só obtendo a excelência na Matemática com uma diferença abismal para o português na compreensão era super dificil na gramática melhorava dada a elevada memória.
Mas a partir do 10º. já foi mais respeitado por colegas, que até tentavam manter conversação com ele. Dificil, muito dificíl.
Espero ter contribuído para apaziguar as suas dúvidas, embora todos saibamos que cada caso é um caso.
Desejo-lhe as maiores conquistas, e estarei sempre ao dispôr
Um abraço
Maria Viana
Caros Asper e Maria Viana,
Obrigado pela vossa sincera e generosa partilha de experiências.Ainda bem que o Asper decidiu publicar como post as minhas dúvidas pois elas são certamente as dúvidas de muitos que visitam este blog!
Na verdade,apesar de só termos um diagnóstico de SA há poucos meses,fazendo um esforço de memória relativo aos mais de 4 anos que educamos e amamos este nosso menino somos levados a concluir que o que se passou até agora é idêntico ao que descrevem:o corpo foi crescendo mas a criança de 5/6 anos mantém-se nos gostos,atitudes,
comportamentos,brincadeiras,etc.Também penso que não houve nem há uma "involução" pois ele não regrediu nas competências que adquiriu,o que se verifica é que não "evolui" de acordo com a sua idade.E tal como ambos referem,os comportamentos que hoje,com 10 anos e 1,42m de altura ainda são tolerados,embora já "esquisitos" daqui a 1 ou 2 anos serão visivelmente aberrantes.E embora não possamos presenciar o seu comportamento na escola temos a noção que se ele tiver conversas e comportamentos idênticos aos que tem em casa,os colegas da idade dele já o marginalizaram.Ele não faz grandes relatos da sua vida na escola mas já referiu que muitas vezes fica só na carteira(de 2)não porque queira mas porque ninguém vem sentar-se a seu lado!No entanto,demonstra grandes qualidades em comparação com os seus pares:é bem comportado,respeita os adultos,não é agressivo.Em casa sabe onde estão todos os objectos,quantos copos,chávenas, etc. há na cozinha,conhece a capa de todos os livros e sabe onde estão...é 1 verdadeiro fiel de armazém!Ás vezes em momentos mais "pesados" comentamos que quem sabe possa vir a ser funcionário de armazém ou de 1 biblioteca!Isto,claro está, se conseguir algum dia não se esquecer de ligar o despertador,não se esquecer de que não é Domingo e tem de ir trabalhar,não se esquecer que é Inverno e precisa de vestir 1 casaco...porque continua a "esquecer-se"dessas coisas, tal como quando tinha 6 anos!Aliás,já concluímos que se o deixarmos algum dia ver tv o dia todo e não lhe "lembrarmos"que tem de comer,ele só o fará quando lhe doer o estômago!!!
Como bem referem,cada caso é um caso,mas apesar de optimista, falta-me a fé...Continuarei a percorrer este "caminho"com todas as receitas de amor,disciplina,treino mas "pelo andar da carruagem"não vislumbro qualquer "clic"que altere o percurso das coisas.E não me interessa se ele tem 80% ou 40% nos testes porque também já percebi que os conhecimentos que adquire não lhe servem para nada.A informação fica lá no disco rígido mas o software para a processar no momento certo não funciona...Ao jantar quando conversamos sobre as cheias ou 1 terramoto algures no mundo e que passa no telejornal ele pergunta"oh mãe,é verdade que as aves voam milhares de kms e sabem sempre o caminho?"...enfim,vocês de certeza percebem o que quero dizer.Fazemos os 3 um esforço para não nos mostrarmos aborrecidos pela interrupção e tentamos,serenamente,responder-lhe...Imagino o que será isto no meio dos colegas quando estão a falar dos Morangos com Açucar ou qualquer outro tema que os interesse...
Um beijo a todos!
Cara Maria Viana
Concordo genericamente com o que disse. Eu pessoalmente também nunca escondi nada nos sítios onde tinha de interagir, sobretudo da escola. Além de que, como diz e bem, eles acabam sempre por se tornar notados. A diferença é terem um rótulo mais científico ou um rótulo mais de senso comum, porventura até mais cruel. Sobre a compreensão dos outros, ela é o que é. Sinto que hoje há imensa compreensão no que respeita à deficiência física e muito menos no que respeita à intelectual.
Cara Mariamartin
Subscrevo em absoluto a sua análise que poderia ser aplicada em cada palavra ao meu filho. O exemplo das cheias e do terramoto, então, é perfeitamente elucidativo. O meu filho na noite da morte do meu pai passou-a excitadíssimo a jogar playstation... Na altura ainda não tinha diagnóstico de SA. Acho que foi a coisa que mais me chocou até hoje. E nunca mais falou no avô... e se eram ligados... No último mês de vida, o estado cognitivo do meu pai degradou-se aceleradamente. Deixou de me conhecer, depois à minha mãe. O meu filho foi o último que ele deixou de conhecer... Está tudo dito, não! Nada muda isto! Nem terapias, nem medicamentos. Isto é todo um «programa mal instalado», como já ouvi dizer a alguém...
Um abraço
P.S. – Uma última nota para a parte profissional. Pois é! As nossas bibliotecas já têm bases de dados e os armazéns programas informáticos de gestão de stocks. A memória é hoje um recurso desprezado e quase inútil. A máquina faz isso por nós. O mundo moderno tem cada vez menos espaço para essas competências e cada vez mais para as sociais.
Olá a todos.
Pelo tamanho inusitado do comentário que queria escrever aqui, optei por responder no meu blog. Espero que não se importem, tendo usado excertos de dois testemunhos para, uma vez mais, mergulhar nas minhas reflexões sem resposta, que têm como único propósito acalmar os meus turbilhões. Asper, obrigada por escrever para nós, sinceramente. Aos restantes, nem preciso de voltar a agradecer os efeitos da partilha. Já o disse, por várias vezes.
Um beijinho
Isa
www.soucomotu.blogspot.com
Caro Asper,
a sua resposta à MariaMartim marcou-me bastante na parte relativa à reacção do seu filho à morte do avô.
Compreendo o que sentiu e o que sente, e o propósito com que aqui o escreveu. E não conheço o seu filho.
Não pretendo confortá-lo, embora gostasse, mas da (pouca) experiência que tenho, "eles" sentem (e sabem) muito mais do que conseguimos perceber.
E, como sabe, são muitas as formas de reagirmos à morte de alguém que nos é muito querido.
No dia em que morreu a pessoa mais importante da minha vida à altura não verti uma lágrima, e fiz as mesmas coisas que sempre tinha feito, sem alterações, como se nada tivesse acontecido. E nunca mais falei dela a ninguém.
Há dores assim, que nos esmagam, e a única coisa a fazer é, como diz a música, "seguir... na vida só resta seguir...". Ainda que achem que temos um cubo de gelo no lugar do coração.
*
A minha filha entrou no 1.º ano e as minhas preocupações eram (e são) que ela se integrasse bem e que os novos amigos e os novos professores a aceitassem como ela é (apesar de terem lista de espera, o colégio aceitou-a depois de eu lhes ter pedido uma reunião e ter explicado a situação; também na reunião de pais, no início do ano lectivo, expliquei a todos quem é a minha filhota :-) ).
Soube hoje que ela ontem se "inscreveu" (na "hora do conto") para ler uma história aos amigos, actividade à qual nunca tinha ligado. Fez-se silêncio na sala e ninguém estava a acreditar no que estava a acontecer. No fim bateram-lhe palmas e ela fingiu que não era nada com ela, embora se visse o seu olhar de satisfação.
Esta iniciativa dela deixou-me no céu. Mais do que saber ler ou escrever o que desejo é que ela saiba relacionar-se com os outros e desenvolver as suas capacidades sociais. E o feito de ontem deixou-me feliz.
Quanto às evoluções ou involuções... nada posso dizer. A minha é demasiado pequena.
No entanto, como é muito marcada na sua diferença, provavelmente, daqui a uns anos, concluirei que não fez a evolução-padrão. Aliás, já hoje verifico que ela é muito "pobre" no que respeita ao relacionamento social e denota grande imaturidade. Mas para ser franca, não tenho pensado muito nisso.
Chegará o tempo das avaliações.
Agora é o tempo do treino das competências.
Um bom fim-de-semana para todos.
Cara Isa
Está à vontade para retirar o que lhe aprouver deste espaço e comentar no seu. Até lhe facilito o acesso, deixando aqui o link para o Para o eco blogosférico. Não há nada a agradecer. Pessoalmente, penso que escrevo mais para os outros. Creio mesmo que aqueles leitores que gostaria de atingir serão os Asper que andam por aí. E evitar percursos como o meu. Acho que teria gostado de me ler há uns 10 ou 15 anos atrás. Essa é – creio bem – uma das minhas motivações mais profundas.
Um abraço
Cara Maria
Saúdo o seu regresso a este espaço, após longa ausência. É sempre bem-vinda. Não duvido nada que eles sentem, de forma diferente de nós, sem dúvida, mas sentem. Tenho disso bastos exemplos. Mas não creio que tenha sido o esmagamento da dor o causador daquela atitude do meu filho, antes um embotamento quase absoluto de um tipo de afecto mais íntimo.
Sobre a sua filha, acho que a sua atitude é a correcta. Quando vejo mencionar-se notas escolares atiradas como troféus ou talvez como «almofadas securitárias» vejo o quão longe quem o faz está da situação que tem em mãos.
Um abraço
Boa Noite
Caro Asper
Não podemos estar mais de acordo em relação a que não são dadas oportunidades, ás Pessoas com defeciência mental
E temos em sintonia connosco o Dr:Nuno que ainda esta semana numa entrevista no programa Portugal no Coração, referia esse facto, o nem sequer darem a posssibilidade de estes nossos homens diferentes, fazerem uma experiência no mundo laboral.Enquanto a generalidade dos defecientes fisícos lá vão tendo algumas chances.
Já agora se puder diga-me qual é asituação do seu no CAO.
Tem difirentes actividades?
Tem progredido ou regredido nessa nova experiência.
O meu está a tempo inteiro no CAO desde Setembro e considero que tem regredido, a imitação de comportamentos, têm-me feito pensar que o nosso esforço até aqui foi em vão.
Aliás pondero muito seriamente retirá-lo de lá.
Ainda não encontrei solução.
Aceitam-se sugestôes... (risos)
Ainda não sei o que quero.
Mas tenho a certeza do que não quero.
Um abraço
Maria Viana
Boa Noite, Maria Viana
A situação do meu filho no CAO que frequenta não é boa. É tal como diz. Há o mimetismo, alinha por baixo, e noto que aqui e ali, ele está pior. Não direi que regrediu, mas noto-o menos brioso nas coisas e menos interessado. Além disso está deprimido e muito desinteressado por tudo. É uma dor de alma, vê-lo alguns dias. A excitação de antigamente foi substituída por algumas rotinas obsessivas. Só que não tenho solução melhor. Não existe solução melhor. A menos que fique em casa, o que é ainda pior. E não vejo, a curto prazo, melhor solução. Já falei com o CAO por várias vezes, fazendo sugestões, mas como não tenho alternativa, há pouco a fazer.
Sei que o CADIN está fazer qualquer coisa, mas pouco. Em tempos idos, numa reunião com alguém do CADIN sobre integração profissional, até dei algumas sugestões mas creio que foi «pregar aos peixes». Aliás, no auge do problema do meu filho, cheguei a sugerir a pessoa que tem uma ligação próxima ao CADIN o que considerei ser uma solução provisória satisfatória. O CADIN parece ter espaço e se não tiver a Logoplaste certamente poderá arranjar. Aliás, do outro lado da estrada, aquilo é «pinhal». Sugeri uma sala, um técnico dedicado, uma carrinha para os ir buscar. A sala daria o CADIN, o técnico pagariam os pais através de uma mensalidade, a carrinha pedir-se ao Salvador Caetano ou afim e o gasóleo à GALP, com a contrapartida de a carrinha estar toda pintada com «TOYOTA APOIA AS CRIANÇAS COM SÍNDROME DE ASPERGER» E «GALP TRANSPORTA AS CRIANÇAS COM SÍNDROME DE ASPERGER». Acho que era melhor do que qualquer CAO. A resposta que obtive é que não havia terrenos, que aquilo era da Logoplaste, etc.
Mas, é evidente que não tem de ser o CADIN a resolver esse problema, tem de ser o Estado e sobretudo os pais. E faço aqui também o meu grande «mea culpa», pois a esse nível não faço, nem quero, fazer o que devia.
Um abraço
Obrigado
caro Asper
Parafraseando a celébre canção não,não sou a única, retirando algumas pequenas nuances, estamos de acordo.
Também não creio que o CAO seja a resposta ideal para os nossos jovens. Não tem sequer a ver com o CAO que o meu filho frequenta ou utiliza não sei, porque até tem várias actividades. Mas é apenas porque não se insere nas necessidades do meu Aspie.
Também já falei com a instituição, sugerindo até a floricultura contagem de flores, que os números ele domina, cores e feitios tb distingue. Mas até agora não mostraram interesse nesta alteração. Talvez não convenha!
Onde está tem muitas ocupações, mas nada de minimamente exigente, é mesmo um deixa andar.
A parte da comunicação que foi adquirindo, tem vindo a fechar-se, pois não á estimulo.Dói mesmo.
E mais eu tenho a certeza que o meu filho, podia fazer algumas tarefas na perfeição, tais como introdução de dados, comparação de listagens, qualquer tarefa rotineira que implicasse contagens...
Bem eu por aqui vou continuar, alguma coisa se ´há-de arranjar!...
Quanto a si não diga que não faz nada, só o ter implementado este espaço já é uma mais valia para muitos pais, eu diria mais tomará tê-lo encontrado á uns anitos atrás (bem agora tb está bem Ahaahah).
Pois há doze anos atrás só encontrei um livro, que me ajudou a ter algumas certezas, de que aquilo que eu pensava não era tão descabido assim.
Mais uma vez obrigado pela sua partilha genuína.
Um abraço
Maria Viana
Caro Asper,
Começo pela "parte profissional":sei tão bem o quão efémero é este nosso desejo de ele vir a ser fiel de armazém ou bibliotecário...por isso referi que tal ideia nos surge nos momentos mais pesados!Na verdade,nem eu nem o meu marido,nem mesmo o irmão temos a veleidade de achar que ele irá um dia ter autonomia para fazer seja o que for...Realiza as tarefas domésticas de arrumar o seu quarto,lavar o quintal,por a mesa e por a loiça na máquina,mas sempre sob instruções precisas.Deixemo-lo em frente à tv e o mundo à volta dele não existe...Quanto à sua experiência dolorosa,embora,felizmente ainda não tenhamos tido nenhuma desde que o temos,já tivemos próximas.No ano passado fui submetida a 1 cirurgia,fiquei 5 dias no hospital e o nosso aspie quando me foi ver nem me beijou...ficou mais interessado em ver os tubos do soro e da morfina...só perguntou"mãe,isso doi?"...foi o mais perto que tive de 1 manisfestação de afecto!Quando o irmão no ano passado caíu e partiu 1 braço, ele riu que se fartou mesmo quando o irmão aos gritos lhe disse "chama alguém,chama o pai,eu tou muito mal!".Duas semanas depois,já o irmão tinha sido submetido a 2 cirurgias,o irmão desmaiou e perante a minha aflição a tentar segurar um miúdo com 15 anos maior que eu,ele ria à gargalhada...!Por isso,já não me surpreendo,já não espero nada diferente.A não ser que quando ele for adulto já existam outras soluções para a sua ocupação diária para não ter essa sensação que o Asper e a Maria Viana têm de que os CAO não são o indicado.
Ainda bem que nos encontrámos neste espaço.Não vislumbro com quem mais poderia partilhar estes desabafos!
Um beijo a todos!
mariamartin
Cara Maria Viana
Estamos genericamente de acordo, disso não há dúvida. Os CAO que existem foram «desenhados» para outras «populações», não para os nossos. E não se adaptam a eles. Curiosamente, ou talvez não, também fiz a sugestão da jardinagem e nada. Aquilo é formatado e ou encaixa ali ou não encaixa em mais lado nenhum. E as técnicas até são jovens! Não sei se o problema é do «enquadramento» que têm, mas o que é facto é que não vejo vontade de adaptar o CAO ao perfil do meu filho. Como não tenho alternativa e já não me foi nada fácil encontrar aquele, vejo-me obrigado a deixar as coisas como estão e seguir em frente, não deixando de, nas reuniões, reafirmar o que penso. Mas o meu é o segundo SA que eles têm...
Quanto ao PA, como aliás já aqui tenho dito, também eu gostaria de ter encontrado algo semelhante no meu tempo, mas acho que é um espaço essencialmente passivo. É uma caixa de ressonância para desabafos e para alguma reflexão, mas esta questão precisa de medidas concretas, de acções, mas enfim, cada um dá o que pode.
Um abraço
Cara Mariamartin
Os episódios que relata são bem elucidativos. Não deixei de sorrir, e creio que v. interiormente também o fez, com a sua expressão «foi o mais perto que estive de uma manifestação de afecto!». Acho que v. olha o problema de frente, sabe o que tem em casa e já ganhou a maturidade suficiente perante a situação para não se angustiar e conseguir até sublimá-la com humor. Há quem confunda essa atitude com descrença, mas eu não acho que seja. E, segundo me diz, não está sozinha, tem a companhia do seu marido e do seu filho, o que é espantoso. Acho que está de parabéns.
Um abraço
É a primeira vez que visito este blog e agradeço a informação disponível, mas acima de tudo a partilha.
Sou mãe de um menino "asperger", por isso partilho muitas dúvidas e preocupações.
O meu filho frequentou a escola primária e foi uma experiência muito negativa, em que era simplesmente mal tratado pelos colegas de turma e nunca entendido pelo professor.
Actualmente frequenta uma escola EB 2/3 onde se integrou na turma, os conflitos surgem, mas graças a professora do ensino especial, conselho executivo e a directora de turma, esses conflitos são resolvidos quase de imediato, o que lhe deu uma grande confiança nos professores e melhorou a auto-estima dele.
No aniversário do meu filho que foi este mês, ele convidou praticamente a turma toda e apareceram 5 meninos, o que para mim me surpreendeu, visto que ele não tinha um único amigo na escola primária.
Nem tudo são rosas mas pela primeira vez vejo uma corpo escolar a preocupar-se e a entender o problema dele, os meninos da sala dele não sabem que ele é um aspie, mas sabem que ele é diferente, segundo palavras de uma das meninas que veio aos anos dele “ As vezes não o entendemos e ele não entendes as nossas piadas, mas nos explicamos porque ele quando quer é mais inteligente que nos”.
Olá mãe anónima
Ter a escola «consigo» («e com ele») é meio caminho andado para as coisas correrem bem.
Felicidades para o percurso escolar do seu filho.
É bem-vinda quando quiser voltar e/ou comentar.
Dia Internacional da pessoa com deficiência...
Deixai-me desabafar...
Hoje todos se irão lembrar!
Amanhã voltam a esquecer.
Que existem deficientes.
E que há muito por fazer.
Não é preciso mostrar.
É preciso executar.
Eu não me assumo culpada.
Pois nunca fiquei parada.
Sei que a pedra é pesada.
Mas eu tenho que a mover.
Muita força para todos os pais
Destes filhos especiais
Um Abração
Maria Viana
Caro Asper,
Creio que tem razão quando diz que atingi a maturidade e já sei o que tenho em casa.Quanto ao sentido de humor,faz parte da minha personalidade,prefiro sempre sorrir do que chorar! :-)!Também penso que não é descrença ou pessimismo,é simplesmente uma forma de abordar os patamares da vida.Sinto-me abençoada com a família que tenho,uma família recente,constituída de "retalhos" de duas famílias anteriores mas,talvez por isso,todos estejamos empenhados em fazer desta 2ª tentativa a FAMÍLIA que idealizámos da primeira vez...!E o esforço está a dar resultado.:-)!
Sinto nas suas palavras alguma amargura,mas não sei mesmo como o confortar...
Como este é um espaço de partilha quero informar-vos que concluí que a falta de empatia emocional ou afectiva do nosso aspie ultrapassa os seres humanos e extravaza para outros seres vivos.Explicando:as nossas cadelas não reagem com ele como com os outros 3 membros da família.Connosco festejam com latidos,pulinhos e lambidelas a nossa chegada a casa.A ele ignoram-no simplesmente,retribuindo de forma "canina" a falta de carinho com que ele as trata...Não é que ele não as agarre para dar mimos,mas só quando lhe apetece...e trata-as como ao peluche com o qual ainda dorme,aperta-as,quer obrigá-las a estarem como ele quer,etc.Se pudermos resumir o quadro eu diria que ele vive num mundo de 100%"matéria".Os seres vivos à sua volta são "objectos",que existem, que ele vê,que têm forma...tal como os seus brinquedos.
Vou terminar com um convite para visitar o blog do Pai,que também costuma aqui comentar e cujo endereço é www.trabalhodecasa.wordpress.com.
Um abraço a todos.
mariamartin
Caríssima Mariamartin
Agradeço-lhe o conforto. Infelizmente pertenço a uma raça de gente que não é confortável. A amargura que refere é bem real. E pouco há a fazer. Apenas me resta viver com ela e tentar viver comigo mesmo. O que nem sempre é fácil.
Curioso paralelo, esse que traça sobre o comportamento do seu filho com os cães e dos cães com ele. Eu só diria, que eles reagem de forma «não canina» :-) Aproveitei para respescar esse seu comentário para um «post».
Já acompanho com interesse o blogue do Pai, desde que ele comentou aqui. E só por preguiça ainda não pus um link para ele ali ao lado.
Um abraço
Ola Boa Noite!
Escrevo-lhe como uma pessoa sensivel a estas questões de socialização por parte de criança e jovens com S.A. Eu estou a terminar o meu curso na area da Educação Especial, e sinto um pessoa previligiado em poder trabalhar neste momento com uma criança com S.A. No desenrolar das minhas actividades com ele, pude verificar que a utilização do desporto, em especial actividades do meio aquatico, porpociona uma abertura emocional a este miudo que me inunda o coração de alegria, posso ve-lo a esboçar grandes sorriso a participar activamente nas tarefas propostas, enfim uma participação activa com grande relevancia. Por este facto escrevo-lhe, porque quero sauda-lo por ser um pai tão especial, e em seguida porpor-lhe que tente junto da sua cidade um local onde possa levar o seu filho a contactar com o meio aquatico... e posteriormente obter um professor individualmente e depois iniciar a entrada do seu filho numa turma.
abraço
Leonel Ferreira
Caro Leonel Ferreira
Seja bem-vindo ao PA. Na verdade, é como diz, sou sensível a estas questões. Mas não sou, nem de perto nem de longe, um pai especial. Já por aqui disse que nessa matéria, estou bastante aquém do que devia. Nem sequer como satisfatório me considero. Se tivesse de me classificar como pai, dar-me-ia um medíocre, na escala antiga, ou um 2, na escala moderna. Posto isto, acho que tem razão em relação à água, mais em termos do desenvolvimento da coordenação motora e da motricidade do que noutros aspectos. Quanto ao meu filho, ele sabe nadar e pratica natação duas vezes por semana. Começou desde muito novo a praticar natação, primeiro sozinho integrado em aulas, depois integrado numa aula com a minha mulher e, finalmente, desde há uns 3 anos, quando se tornou complicada a gestão da situação, em regime livre, connosco. Não há nada a fazer também por aí.
Um abraço e boa sorte na sua prática profissional, já que o sistema educativo está bastante carenciado de profissionais qualificados na área da educação especial e ademais dedicados ao ponto de dedicarem uns minutos da manhã de ano novo a aconselharem um pai num blogue sobre a SA. É sempre bem-vindo aqui, para ler ou comentar.
Boa Tarde a todos,
gostaria de responder ao senhor Leonel Ferreira, sou mãe de um menino com 7 anos que frequenta aulas de natação desde os 3, apesar de cada caso é um caso, o meu filho também adora nadar, é curioso dizer que ele quando tinha 5 anos a educadora disse-me que ele devia ser peixinho porque parecia que esse era o seu habitat, ele diverte-se mesmo dentro de agua, pena que não consegue acabar as piscinas que a professora pede, distrai-se a meio e começa a brincar, claro que a professora já está ao corrente da situação e insiste em lembrar-lhe o que estava fazendo, o que é muito bom. Mas pelo menos sei que naqueles 45 m ele está bem...
abraço
Só nestes últimos é que soube da existência do Síndroma de Asperger e à medida que descubro mais sobre o mesmo, descubro mais respostas para muitas das perguntas que sempre tive.
Este blog ajudou-me a compreender melhor o SA e a conhecer-me de forma mais profunda, obrigado pela informação, irei regressar aqui mais vezes.
Caro Kimikkal
Obrigado pela suas palavras. Volte sempre que quiser. É bem-vindo.
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