«Não estamos sós». Um espaço de reflexão sobre a diferença.
domingo, março 18, 2007
Comportamento Social 2007
Há umas semanas assisti numa viagem de eléctrico a um vulgar encontro, como tantos outros, entre duas pessoas que não se viam há bastante tempo. O eléctrico ia bastante composto de gente. O espaço era pouco. A voz de um dos interlocutores impunha-se. E eu tive oportunidade não só de ouvir a conversa mas também de a presenciar. Os interlocutores eram uma mulher de 50 anos e um jovem de 20. Pelo que pude perceber ela era uma velha amiga de família. A mulher tinha uma postura assertiva, fosse por carácter, fosse pelo natural ascendente que a idade lhe dava sobre o jovem. Este era tímido e estava pouco à vontade ou ambas as coisas. A mulher liderava os temas e os tempos da conversa. O jovem apenas reagia. E pude assistir, naquela viagem, ao desenrolar da conversa e à evolução da atitude dos intervenientes com ela. O rapaz foi estando mais à vontade e perdendo alguma timidez. A mulher foi ficando ainda mais loquaz. E pude aperceber-me da espera de ambos pelas deixas da conversa. E pude aperceber-me da capacidade de entender o Outro que ambos patentearam e do que era expectável que ambos dissessem em certos momentos. E pude ainda perceber a forma quase perfeita como aquelas duas pessoas socialmente se encaixaram uma na outra e como foram acomodando discursos e atitudes. É notável, de facto, a enorme gama de recursos sociais que nós utilizamos sem que disso nos apercebamos e sem que isso nos seja ensinado. É como se tivéssemos dentro de nós um complexo programa com múltiplas regras de comportamento social, a maior parte delas inatas e/ou adquiridas naturalmente e sem qualquer aprendizagem específica. Infelizmente não existe loja de software onde comprar um programa Comportamento Social 2007, e os respectivos upgrades, para os nossos SA…
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Tem-se falado muito aqui na situação dos pais de crianças com SA. Por vezes, falamos também noutros familiares, mas sempre de uma forma genérica e indistinta. É que à situação dos pais junta-se muitas vezes a dos irmãos. Parece-me, pelo que tenho ouvido, que os irmãos da mesma idade se sentem por vezes frustrados por não terem com quem compartilhar, na sua plenitude, as brincadeiras e os irmãos mais velhos querem muitas vezes ajudar e compreender, sem saber como agir. Outras vezes, ainda, os irmãos da mesma idade sentem que os pais dedicam demasiado tempo, energia, atenção ao filho diferente e menos a eles, ou então, numa espécie de processo de compensação, investem e exigem deles, em dobro. Não tenho, creio que apesar de tudo infelizmente, esse problema, cuja equação se me afigura de resolução extremamente difícil.
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