Então e quando eles me vêm com a Internet…
Há uns meses surpreendi, num determinado contexto que não interessa para o caso, uma conversa entre médicos. Eu estava sentado na mesa ao lado. E alguns dos clínicos falavam alto e bom som, pelo que não pude deixar de ouvir algumas partes dos diálogos. Havia-os, inclusive, de todas as faixas etárias, desde os de trinta e poucos até uma senhora com seguramente mais de sessenta.
Das coisas que tive de ouvir, retenho duas que não deixaram de me causar uma viva impressão. A primeira foi uma espécie de divisão de campos entre doentes e clínicos sempre presente nas conversas. Referiam-se sempre aos doentes por eles. Confesso que pela abordagem me chocou. E a segunda – e mais impressionante – foi um comentário de um deles. Ainda por cima um indivíduo de meia-idade – teria entre quarenta e quarenta e cinco anos – que referiu, a dada altura, para outro ligeiramente mais velho: «então e quando eles me vêm com a Internet»... Isto para se referir aos doentes que dialogam com ele com base nalguma coisa que leram na Internet.
Isto impressionou-me. Sobretudo por vir de alguém com aquela idade e portanto com mais vinte ou vinte e cinco anos de exercício profissional ainda para fazer. E – claro está – logo recordei a minha conversa com o tal neuropediatra que acompanhou um ror de anos o meu filho e que nunca lhe diagnosticou Síndrome de Asperger ou Perturbação do Espectro do Autismo. E que é actualmente – ao que parece – um dos grandes especialistas nacionais em SA. Quando eu o questionei. Melhor, quando eu – ao que recordo e sendo aqui juiz em causa própria – com alguma delicadeza e tacto – seguramente maiores do que a que a criatura mereceria – aventei essa possibilidade de diagnóstico para colher a sua certamente sábia e douta opinião, com base também e sobretudo em dados colhidos da Internet, a reacção foi aquela de já aqui falei.
É que há quinze ou vinte anos, quem queria saber algo mais sobre uma qualquer patologia ou perguntava a um médico e ouvia apenas aquilo que ele lhe queria dizer, muitas vezes enroupado com o jargão da arte, ou teria de ter a paciência e a disposição para ir a uma biblioteca e consultar umas enciclopédias e/ou umas dezenas de livros. Enquanto hoje, chega a casa, liga-se à net, abre o Google, faz uma pesquisa e tem um manancial da informação sobre essa patologia.
Parece que infelizmente alguns clínicos ainda não se aperceberam dessa mudança de paradigma. E continuam com atitudes de antanho. É bom, porém, como dizia o outro, que se habituem a dialogar horizontalmente com os doentes. É que os tempos são manifestamente outros e o paradigma do acesso ao conhecimento mudou radicalmente e sobretudo, e ainda bem, alargou-se e democratizou-se...
Das coisas que tive de ouvir, retenho duas que não deixaram de me causar uma viva impressão. A primeira foi uma espécie de divisão de campos entre doentes e clínicos sempre presente nas conversas. Referiam-se sempre aos doentes por eles. Confesso que pela abordagem me chocou. E a segunda – e mais impressionante – foi um comentário de um deles. Ainda por cima um indivíduo de meia-idade – teria entre quarenta e quarenta e cinco anos – que referiu, a dada altura, para outro ligeiramente mais velho: «então e quando eles me vêm com a Internet»... Isto para se referir aos doentes que dialogam com ele com base nalguma coisa que leram na Internet.
Isto impressionou-me. Sobretudo por vir de alguém com aquela idade e portanto com mais vinte ou vinte e cinco anos de exercício profissional ainda para fazer. E – claro está – logo recordei a minha conversa com o tal neuropediatra que acompanhou um ror de anos o meu filho e que nunca lhe diagnosticou Síndrome de Asperger ou Perturbação do Espectro do Autismo. E que é actualmente – ao que parece – um dos grandes especialistas nacionais em SA. Quando eu o questionei. Melhor, quando eu – ao que recordo e sendo aqui juiz em causa própria – com alguma delicadeza e tacto – seguramente maiores do que a que a criatura mereceria – aventei essa possibilidade de diagnóstico para colher a sua certamente sábia e douta opinião, com base também e sobretudo em dados colhidos da Internet, a reacção foi aquela de já aqui falei.
É que há quinze ou vinte anos, quem queria saber algo mais sobre uma qualquer patologia ou perguntava a um médico e ouvia apenas aquilo que ele lhe queria dizer, muitas vezes enroupado com o jargão da arte, ou teria de ter a paciência e a disposição para ir a uma biblioteca e consultar umas enciclopédias e/ou umas dezenas de livros. Enquanto hoje, chega a casa, liga-se à net, abre o Google, faz uma pesquisa e tem um manancial da informação sobre essa patologia.
Parece que infelizmente alguns clínicos ainda não se aperceberam dessa mudança de paradigma. E continuam com atitudes de antanho. É bom, porém, como dizia o outro, que se habituem a dialogar horizontalmente com os doentes. É que os tempos são manifestamente outros e o paradigma do acesso ao conhecimento mudou radicalmente e sobretudo, e ainda bem, alargou-se e democratizou-se...
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