AGORA SOU EU! 1 – Involução! Sim ou não?
Como se disse no primeiro post deste espaço, o Planeta Asperger é essencialmente dos seus leitores. Inauguro agora um outro tipo de posts a que chamarei: «AGORA SOU EU!». A frase pretende ser uma metáfora de um comportamento tipicamente asperger na relação com os outros. Irei repescar alguns comentários com perguntas, autonomizá-los sob a forma de posts e lançar o debate que eles suscitem. É o que faço com este da Mariamartin que coloca, a meu ver, várias questões muitíssimo pertinentes. A minha resposta vai também no post.
«Caro Asper,
Antes de mais obrigado pelas palavras de conforto quanto à reacção do Director de Turma do meu filho. Não há dúvida de que por vezes somos nós próprios que, por receio ou preconceito, já analisamos negativamente as reacções dos outros ao nosso problema. Neste caso concreto até pode ser que a razão esteja do seu lado e eu estivesse demasiado pessimista. Depois dessa "apresentação" já fui a uma reunião de pais e o Prof. confirmou já ter distribuído a papelada aos colegas e tê-los alertado para as necessidades especiais. Como é meu lema, também neste assunto "a ver vamos"! A nível escolar ele continua bem, 70% a 80% nos testes, excepto em História que teve 45% porque, como ele diz "não percebo nada daquilo"! O mais preocupante continua a ser mesmo "o social". Ele fez 10 anos no passado dia 5 e sendo segunda-feira limitámo-nos a um jantar melhorado a 4, com marisco (que ele adora!) e um bolo pequeno. Disse-lhe que no Sábado seguinte faríamos uma festinha com os avós, as primas, o vizinho Nuno com quem costuma brincar e 4 colegas da escola que ele quisesse convidar. No dia seguinte disse que apenas viria o Marco pois os outros deviam ir para fora. Na 6.ª feira o Marco já não podia vir porque ia para o Monte, mas viria o Gonçalo que ficara de telefonar a confirmar. Até Sábado de manhã o Gonçalo não telefonara e o meu ligou-lhe várias vezes para o tlm. Sempre desligado. Em suma, nenhum dos colegas convidados apareceu e, por azar, o vizinho Nuno adoeceu. A sua festa foi apenas feita por nós, os avós e as primas (uma com 13 anos). Ele manifestou algum desapontamento mas que depressa passou, como aliás lhe passam depressa todas as emoções. Eu, o pai e o irmão ficámos muito preocupados... este é o 4.º ano com uma turma onde não consegue fazer uma só amizade. Por alguns comentários dos colegas, penso que ele é considerado "chato" e "parvo". Quer mandar em todas as brincadeiras, não sabe brincar, tem conversas parvas, é mau, zanga-se facilmente com alguma coisa... O facto de ter um aparência "normal" faz com que os outros nunca o vejam como uma criança com problemas mas apenas como um "chato". E isto leva-me novamente à questão do "deve ou não dizer-se" a estas crianças com 10 anos que ele tem SA? Será que já têm capacidade para ser generosos como foram os colegas do filho do Asper? Ou iriam chamar-lhe "anormal", "deficiente", "maluco", etc.? Neste momento, como não temos resposta, não vamos arriscar. Mas temos a clara noção que provavelmente é esta "cegueira" social e emotiva que com o passar dos anos leva ao agravamento do seu estado. Porque em termos de autonomia ele mantém-se praticamente igual, o que fazia ou não fazia aos 6 continua a fazer ou a não fazer, só que não tem amigos nem brincadeiras próprias da sua idade! E por isso, hoje termino com uma pergunta ao Asper e à mãe anónima de um rapaz com 19 anos: na vossa opinião o que é que agravou o estado dos vossos filhos? Foi a parte emocional e social? Foi uma "involução" nas capacidades? Aguardo os vossos testemunhos de experiência! Um beijo a todos!
Mariamartin»
Cara Mariamartin
Antes de mais também, ainda bem que encontrou conforto nas minhas palavras. Procuro ser bastante objectivo e sou – sei-o bem – muitas vezes objectivamente cru. Pelo que nem sempre as minhas palavras têm o efeito lenitivo que lhes encontrou. Ainda bem que foi assim consigo!
Quanto ao seu comentário, que coloca várias questões, é de uma clareza meridiana na análise da situação. E creio que já todos passámos por episódios semelhantes!
Quanto ao meu filho, não acho que tenha havido uma involução, não houve foi a evolução desejada. No fundo:
1.º Os outros cresceram e ele não;
2.º A tolerância social diminuiu à medida que a idade avançou; comportamentos desculpáveis na infância e na adolescência são comportamentos condenáveis na idade adulta;
3.º Certos comportamentos, tiques, atitudes amplificaram-se e/ou tornaram-se mais notados por se tratar de um adulto, resultado, creio – visto agora – da própria evolução da personalidade; moldável na infância e na adolescência, não moldável em adulto.
Em resposta à sua pergunta, a parte emocional e social quase não evoluiu e as capacidades gerais evoluíram menos do que se esperava.
Antes de mais também, ainda bem que encontrou conforto nas minhas palavras. Procuro ser bastante objectivo e sou – sei-o bem – muitas vezes objectivamente cru. Pelo que nem sempre as minhas palavras têm o efeito lenitivo que lhes encontrou. Ainda bem que foi assim consigo!
Quanto ao seu comentário, que coloca várias questões, é de uma clareza meridiana na análise da situação. E creio que já todos passámos por episódios semelhantes!
Quanto ao meu filho, não acho que tenha havido uma involução, não houve foi a evolução desejada. No fundo:
1.º Os outros cresceram e ele não;
2.º A tolerância social diminuiu à medida que a idade avançou; comportamentos desculpáveis na infância e na adolescência são comportamentos condenáveis na idade adulta;
3.º Certos comportamentos, tiques, atitudes amplificaram-se e/ou tornaram-se mais notados por se tratar de um adulto, resultado, creio – visto agora – da própria evolução da personalidade; moldável na infância e na adolescência, não moldável em adulto.
Em resposta à sua pergunta, a parte emocional e social quase não evoluiu e as capacidades gerais evoluíram menos do que se esperava.
Não creio que tenha havido propriamente uma involução. Houve foi uma evolução marginal das competências sociais e uma evolução sofrível das restantes.
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Etiquetas: Amigos, Colegas, Comportamento Social, Escola, Vida adulta